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Relatório da Unifesp analisa repressão aos bailes funk e seus impactos na juventude negra e periférica

Pesquisa revela os efeitos das operações policiais nos bailes funk e como a repressão, sem dados transparentes, resultou em violência e mortes, destacando o caso de Paraisópolis

A imagem apresenta um fundo predominantemente roxo com elementos visuais que remetem à cultura dos bailes funk de rua em São Paulo. O título "Pancadão" está em destaque na parte superior com uma tipografia estilizada, com uma coroa e um halo que decoram as letras.  No centro, há uma figura pequena de uma pessoa com guarda-chuva, posicionada sobre um conjunto de caixas de som gigantes, enfatizando o impacto do som e da música. Em primeiro plano, duas mãos se aproximam, uma segurando um crucifixo e a outra um par de óculos dourados, evocando simbolismos e a estética funk.  Na parte inferior, há uma ilustração do horizonte da cidade de São Paulo com prédios e morros, reforçando a localização cultural. O texto "Uma História da Repressão aos Bailes Funk de Rua na Capital Paulista" aparece no canto inferior direito, indicando o tema central da imagem: a repressão a esses eventos culturais.

O Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) lançou, no último dia 29 de novembro, o relatório inédito Pancadão: uma história da repressão aos bailes funk de rua na capital paulista, que traça a evolução das operações policiais, chamadas de Operações Pancadão, contra os bailes funk na capital paulista. A pesquisa, coordenada pela historiadora Desirée de Lemos Azevedo, tem como objetivo compreender o contexto da repressão ao funk, que afeta principalmente a juventude negra e periférica, e os efeitos dessas ações no cotidiano das comunidades.

O relatório, fruto de investigação em duas décadas de notícias de jornais, revela a criação das operações e os custos humanos dessa política pública. Um dos marcos mais trágicos dessa repressão foi o Massacre de Paraisópolis, que completou cinco anos em 2024, quando nove adolescentes foram mortos(as) durante uma operação policial em um baile funk na zona sul de São Paulo. A tragédia foi o ponto de partida para o projeto “Os 9 que Perdemos”, uma parceria entre o CAAF/Unifesp, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo e o Movimento de Familiares das Vítimas do Massacre, que busca dar visibilidade ao caso e à violência policial contra jovens de periferia.

A repressão ao funk e seus efeitos

O relatório aponta que as Operações Pancadão têm como objetivo prevenir e impedir a realização de bailes funk em áreas públicas, no entanto, frequentemente resultam em situações de violência, com ações de repressão e dispersão que culminam em agressões físicas e mortes. A pesquisa revelou que a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo não reúne dados sobre o número de mortes e feridos decorrentes dessas operações, o que evidencia a falta de transparência em relação à repressão policial a esses eventos.

"Há uma negação sistemática de dados sobre a violência policial nos bailes funk, o que impede uma análise mais aprofundada e uma resposta efetiva do poder público", afirma Desirée Azevedo, coordenadora do estudo. “Nossa pesquisa revela que, apesar de toda a violência, a repressão aos bailes funk se intensificou após o Massacre de Paraisópolis, ao invés de ser revista”.

Além de mapear os principais atores envolvidos na elaboração das operações, o relatório evidencia o alto custo humano desta política, com ênfase na infância e juventude de comunidades periféricas. Em muitos casos, as operações resultam em mortes, ferimentos graves e o comprometimento da saúde mental dos(as) jovens envolvidos(as), que se tornam alvos constantes da repressão estatal.

O caso Paraisópolis e o projeto Os 9 que Perdemos

O Massacre de Paraisópolis, ocorrido em 1.º de dezembro de 2019, é um dos exemplos mais trágicos da repressão aos bailes funk. Durante uma operação policial para dispersar um baile funk, nove adolescentes foram mortos(as). A operação evidencia a violência desmedida por parte da polícia para lidar com grandes aglomerações.

O caso gerou uma mobilização social em torno das vítimas, com o surgimento do projeto Os 9 que Perdemos, que visa homenagear as vítimas e levantar dados, reunir relatos e pressionar por mudanças nas políticas públicas. O site do projeto, lançado junto com o relatório, reúne informações sobre o caso e oferecerá um canal para denúncias de violência policial, permitindo que cidadãos(ãs) e testemunhas contribuam com relatos de abusos em bailes funk.

“Ao lançar esse site, queremos dar voz às vítimas e às comunidades atingidas pela violência policial. Não podemos permitir que mais jovens percam suas vidas sem que a sociedade e as autoridades se responsabilizem”, afirma Desirée.

Dados de insegurança e a falta de transparência

Um dos aspectos mais alarmantes que o relatório aponta é a falta de dados precisos sobre a violência nos bailes funk. O estudo destaca a ausência de sistematização de dados por parte da Secretaria de Segurança Pública, que não discriminam os incidentes envolvendo a repressão a eventos de funk. Sem essas informações, é impossível criar políticas públicas eficazes que protejam a população e responsabilizem os(as) agentes de segurança.

A ausência de transparência também compromete o processo de responsabilização dos(as) envolvidos(as) em casos de violência, dificultando a avaliação da eficácia das operações e o impacto delas nas comunidades. A pesquisa ainda chama a atenção para a falta de um diálogo contínuo entre o poder público e a população, algo essencial para resolver os conflitos de maneira mais justa e humana.

Mobilização e ações futuras

Além de lançar o site do Os 9 que Perdemos, o CAAF/Unifesp e seus(as) parceiros(as) pretendem ampliar a pesquisa e continuar pressionando por respostas do poder público. Em uma ação concreta, o relatório sugere a criação de mecanismos de coleta de dados sobre violência policial, com a participação ativa das comunidades periféricas, como forma de garantir maior transparência e efetividade na resposta do Estado.

“É urgente que o Estado se responsabilize por essas mortes e, mais importante, que modifique as políticas de repressão aos bailes funk. O que vemos é uma estratégia que não resolve o problema da violência, mas o agrava”, conclui a historiadora.

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