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Estudo pioneiro identifica biomarcadores que podem revolucionar o diagnóstico da bipolaridade depressiva

Estudo de pesquisadores(as) da Unifesp, em parceria com cientistas franceses, identifica biomarcadores sanguíneos que poderão revolucionar o diagnóstico da bipolaridade depressiva, avançando no entendimento dos mecanismos associados ao transtorno

A imagem mostra uma mão enluvada segurando um tubo de ensaio cheio de sangue. O tubo de ensaio possui uma etiqueta em branco, indicando que está pronto para rotulagem ou que os detalhes específicos foram removidos para fins de demonstração. Ao fundo, há um rack de metal com tubos de ensaio adicionais e um teclado de computador. A cena sugere um ambiente médico ou laboratorial, possivelmente relacionado a exames de sangue, diagnósticos ou pesquisas envolvendo biomarcadores sanguíneos.

Pesquisadores(as) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em colaboração com cientistas franceses, fizeram uma descoberta que pode mudar o panorama do diagnóstico da bipolaridade depressiva. O estudo, publicado na revista Psychiatry Research, apresenta um painel de biomarcadores sanguíneos capazes de auxiliar com precisão no diagnóstico diferencial de pacientes com transtorno bipolar ou depressão unipolar, marcando um avanço no campo da psiquiatria.

Diferenciar a depressão no transtorno bipolar da depressão unipolar tem sido um desafio na prática clínica. Os sintomas depressivos são comuns a ambos os transtornos, o que complica o diagnóstico clínico e, consequentemente, o tratamento adequado. Nesse contexto, a identificação de biomarcadores moleculares oferece uma nova esperança para melhorar a precisão dos diagnósticos e personalizar as abordagens terapêuticas.

“O diagnóstico clínico ainda é limitado a entrevistas clínicas, o que pode levar a imprecisões. A identificação de biomarcadores moleculares possibilita uma compreensão mais profunda das vias e mecanismos moleculares envolvidos nesses transtornos mentais”, explica a professora Mirian Hayashi, do Departamento de Farmacologia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo, que coordenou a pesquisa no Brasil e que contou com a contribuição da professora Elisa Brietzke, do Departamento de Psiquiatria (EPM/Unifesp), mas que atualmente atua na Queen’s University (Canadá).

O estudo se baseia na análise de amostras de sangue de pacientes com transtorno bipolar, nas quais os(as) pesquisadores(as) observaram um padrão específico de alterações no RNA. Essas alterações estão relacionadas ao processo de edição do RNA, mediado por duas enzimas principais: RNA editing 1 e RNA editing 2. Esse processo é base para a produção de proteínas e pode influenciar diretamente o comportamento celular - e, por conseguinte, na manifestação de doenças.

“Cada uma dessas enzimas tem um padrão de edição e, ao analisar o sangue, é possível verificar o padrão de edição de RNA do(a) paciente. E o grupo francês com o qual colaboramos identificou um painel com oito biomarcadores, que se mostrou eficaz em diferenciar pacientes com transtorno bipolar depressivo dos que têm depressão unipolar”, destaca a docente Mirian Hayashi.

O painel de biomarcadores descrito no artigo inclui os RNAs PDE8A, CAMK1D, GAB2, IFNAR1, KCNJ15, LYN, MDM2 e PRKCB. Esses marcadores foram validados em pacientes com transtorno bipolar depressivo e em pacientes eutímicos – aqueles que estão em tratamento e com remissão dos sintomas.

A importância da diversidade genética

A pesquisa é fruto de uma parceria internacional envolvendo cientistas do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) e da empresa de medicina personalizada Alcediag, ambos da França. Um dos objetivos era validar, em uma população geneticamente mais diversa, como é o caso da população brasileira, os resultados obtidos anteriormente em pacientes franceses.

“Os(As) pesquisadores(as) franceses(as) já acreditavam que o padrão de edição de RNA poderia ser um biomarcador para o diagnóstico do transtorno bipolar, conforme comprovado em estudos com pacientes franceses. No entanto, por se tratar de uma população muito homogênea, eles(as) quiseram repetir os mesmos estudos com pacientes brasileiros(as) para validar o que foi visto na Europa”, relata Mirian Hayashi.

Essa validação em uma população miscigenada como a brasileira é fundamental, pois amplia a aplicabilidade dos biomarcadores e aumenta a confiança na sua eficácia em diferentes grupos populacionais.

O estudo abre caminho para o desenvolvimento de um exame de sangue que possa ser utilizado como um suporte ao diagnóstico clínico da bipolaridade depressiva. No entanto, os(as) pesquisadores(as) ressaltam que ainda há desafios a serem superados, especialmente em relação à distinção entre os efeitos da medicação e os efeitos da própria doença sobre as alterações no RNA. Essa questão abre novas possibilidades de pesquisa, incluindo a utilização dos biomarcadores para monitorar a possível resposta ou adesão ao tratamento farmacológico.

Além disso, a edição de RNA, por sua relação com a regulação do sistema imunológico e a resposta inflamatória, pode ser explorada como um alvo para novos tratamentos. Pesquisas futuras podem investigar a modulação dessas vias para desenvolver terapias inovadoras para transtornos psiquiátricos.

O estudo representa um avanço na busca por diagnósticos mais precisos para a bipolaridade depressiva, além de apontar para novas direções em tratamentos futuros, trazendo esperança para milhões de pessoas que convivem com transtornos psiquiátricos. Embora ainda seja importante lembrar que se trata de um estudo de pesquisa básica investigatória e ainda não disponível para o uso clínico, já que ainda necessita de mais estudos para aprovação pelas agências regulatórias competentes.

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