Um estudo inédito realizado a partir de uma articulação interinstitucional estadual com o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo (CBPMESP), a Escola Superior de Bombeiros (ESB) e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), analisou as tendências das tentativas de suicídio atendidas pelo Corpo de Bombeiros entre os anos de 2017 e 2021.
O artigo, publicado na Revista Brasileira de Epidemiologia, identificou que as ocorrências se mantiveram estáveis no período pré-pandemia, mas apresentaram um aumento significativo após o início da crise sanitária da covid-19. A pesquisa destaca a necessidade de uma estratégia nacional multissetorial de prevenção ao suicídio para mitigar os efeitos da pandemia na saúde mental.
Principais achados da pesquisa
Os pesquisadores Gabriela Arantes Wagner, Tiago Regis Franco de Almeida, Adriana Leandro de Araújo, Diógenes Martins Munhoz e Pedro Gomes Andrade analisaram 11.435 registros de tentativas de suicídio atendidas pelo Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo (CBPMESP). Foram utilizados modelos estatísticos para avaliar a evolução temporal das ocorrências, considerando a população total e estratificação por sexo.
Os resultados indicaram que:
- As tentativas de suicídio permaneceram estáveis antes da pandemia, mas tiveram um aumento expressivo a partir de 2020;
- A tendência de crescimento foi mais acentuada entre os homens, especialmente após o início da vacinação contra a covid-19;
- Durante os primeiros meses da pandemia, o número de tentativas de suicídio entre homens foi inferior ao período pré-pandemia, mas voltou a subir significativamente após o início da imunização, com tendência de crescimento a longo prazo;
- O impacto da vacinação na redução das ocorrências não foi estatisticamente significativo, reforçando a necessidade de políticas complementares de atenção à saúde mental.
A pesquisa contextualiza que o aumento das tentativas de suicídio pode estar associado aos efeitos prolongados da pandemia, como o isolamento social, a instabilidade econômica e a dificuldade de acesso a serviços de saúde mental e indicam que a vacinação contra a covid-19 não teve um impacto significativo na redução das ocorrências atendidas pelo CBPMESP, sugerindo que os desafios à saúde mental da população persistiram mesmo após a implementação da campanha de imunização.
Recomendações e políticas institucionais
Diante dos achados, os pesquisadores reforçam a importância de medidas institucionais para enfrentar o aumento das tentativas de suicídio. Entre as recomendações, destacam-se:
- A implementação de estratégias nacionais de prevenção ao suicídio, com ações integradas entre setores da saúde, segurança pública e assistência social;
- O fortalecimento de políticas públicas voltadas para a atenção psicossocial, garantindo maior acesso aos serviços de suporte emocional e acompanhamento contínuo;
- A ampliação de campanhas de conscientização sobre saúde mental, com foco na redução do estigma e na promoção do cuidado preventivo.
“É fundamental a ampliação de estudos voltados para o atendimento de ocorrências de tentativa de suicídio, uma vez que a identificação precoce de indivíduos em situação de risco e a implementação de medidas preventivas podem reduzir significativamente as taxas de suicídio, reforçando a necessidade de ampliar os esforços para mitigar os efeitos da pandemia sobre a saúde mental e prevenir o agravamento das condições psicológicas da população”, explica a pesquisadora Gabriela Wagner.
O artigo completo pode ser acessado aqui.