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Medindo as emoções

Projeto de extensão, executado em parceria com o Instituto Abihpec, avaliou oscilações emocionais em mulheres acometidas por câncer de mama após aplicação de cosméticos faciais

Imagem de um grupo de pessoas em um evento

Como intervir no cotidiano de pacientes acometidas pelo câncer, de forma a que reajam melhor ao tratamento e superem essa etapa com maior autoestima? Vânia Rodrigues Leite e Silva, docente do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) - Campus Diadema, encontrou respostas para essa delicada questão a partir da Psicologia e da cosmetologia (ramo da ciência farmacêutica). Por meio do projeto de extensão que coordenou entre os anos de 2016 e 2017, denominado Avaliação do Bem-Estar de Pacientes que Fazem Uso de Tratamento Oncológico antes e após o Uso de Cosméticos, a pesquisadora e sua equipe recrutaram 80 voluntárias com câncer de mama a fim de mensurar a melhora do estado psicológico após workshops de beleza. Os resultados, publicados em artigo um ano após a conclusão do projeto, mostraram que, entre as participantes, houve um decréscimo da tristeza após as intervenções. 

Silva explica que a ação foi proposta pelo Instituto Abihpec, ramo social da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). “O instituto é o único que detém a licença no Brasil para aplicar o programa internacional Look Good Feel Better, que ajudou mais de 10 mil mulheres a minimizar os efeitos colaterais do tratamento oncológico por meio do cultivo da boa aparência. Apoia-se em um conceito que tem sido bastante explorado desde a década de 1960, o bem-estar subjetivo, que envolve a compreensão de estados emocionais, sentimentos, afetos e satisfação em relação a diferentes aspectos da vida. Seu presidente, Claudio Viggiani, sugeriu que aderíssemos à ação, de modo a medir as emoções e comprovar os benefícios desse programa maravilhoso”, conta. 

Além da parceria com a Abihpec, que convocou bolsistas e encaminhou os produtos doados por indústrias do setor – itens de maquilagem, higiene pessoal e perfumaria, além de lenços de tecido para amarração em torno da cabeça –, a docente recebeu o apoio do Instituto Paulista de Cancerologia (IPC), que permitiu o acesso às pacientes cadastradas. Coube aos pesquisadores da Unifesp aferir o efeito das intervenções de beleza sobre as voluntárias. Nessa avaliação, foram utilizados dois métodos famosos na Psicologia e Psiquiatria: a escala de autoestima de Rosenberg (EAR) e a Facial Action Coding System (Facs). O primeiro baseia-se na pontuação obtida em um questionário composto por dez questões fechadas. O segundo, ao qual aderiram apenas 12 voluntárias, capta e codifica os movimentos de músculos faciais individuais a partir de mudanças momentâneas distintas na aparência facial. 

As respostas ao questionário, por si sós, foram consideradas insuficientes para avaliar com precisão as alterações no nível de bem-estar das voluntárias. Por meio do software instalado em um tablet e acoplado a um espelho, foi possível, entretanto, detectar as expressões faciais enquanto se maquilavam. As observações foram divididas em etapas – como receber o presente, higienizar a pele, passar o filtro solar e aplicar o lápis delineador, o rímel e o blush –, registrando-se os aspectos fisionômicos a cada milissegundo. “Percebemos que o uso do batom inspirou mais confiança. Por outro lado, colocar o lenço na cabeça gerou expressões de raiva e aversão – provavelmente porque lembravam a perda de cabelos devido à quimioterapia”, relata. 

A coordenadora do projeto afirma que, a partir dos resultados, busca expandir a metodologia do sistema facial para o estudo de doenças como a depressão. Essa meta inclui obter o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) na aquisição de equipamentos. “Queremos comprovar que um programa de beleza pode evitar ou amenizar casos depressivos, uma disfunção bastante comum hoje em dia e que implica enormes impactos na saúde pública – como a provisão de medicamentos e a falta de produtividade no trabalho”, complementa. 

Para Silva e sua equipe, a maior recompensa foi vencer o desafio de atuar com mulheres em situação de vulnerabilidade. “Escutávamos declarações como: ‘Hoje não vou precisar de terapia, pois já ganhei minha dose diária de felicidade’, que nos motivavam constantemente. Sou uma defensora dos programas e projetos de extensão, pois aproximam professores, alunos e sociedade, incentivam a pesquisa e voltam os olhares de discentes e docentes para os aspectos sociais da missão acadêmica”, finaliza.

 

Câncer de mama é o que mais afeta mulheres no país 

Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), divulgados em 2019, o câncer de mama é o tipo que mais afeta mulheres acometidas por essa doença, alcançando 60% dos casos registrados no país. Esse percentual coloca em foco a importância de amenizar os sintomas decorrentes do tratamento, pois os efeitos colaterais da quimioterapia incluem distúrbios no sistema digestivo, infecções, perda de cabelo, alterações na pele e trauma emocional.

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Vânia Rodrigues Leite e Silva, que coordenou por dois anos a avaliação do bem-estar de pacientes sob tratamento oncológico, após o uso de cosméticos fornecidos pela Abihpec, afirma que os resultados servirão de base à tese de doutorado que desenvolve sobre o tema

 

Software analisa automaticamente seis expressões faciais

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Captura de tela do software usado no projeto

O cálculo adotado pelos pesquisadores para determinar as alterações emocionais consistiu no equilíbrio afetivo: alegria e surpresa foram consideradas emoções positivas; raiva, medo, rejeição e tristeza, por sua vez, foram tratadas como emoções negativas. Foi identificada uma diferença significativa entre o início da oficina, quando as pacientes receberam as instruções, e seu término. O resultado dos testes não revelou pessoas mais positivas, mas menos negativas.


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Edição 12 • novembro 2019