Visando à inovação social, o Centro Regional de Formação em Políticas sobre Drogas e Direitos Humanos (CRF) desenvolve um programa de extensão que surge em 2017 na Baixada Santista, a partir da iniciativa do Grupo de Pesquisa e Extensão DiV3rso, composto por docentes, estudantes e membros da comunidade do entorno do Campus Baixada Santista. O programa nasce da necessidade de promover a qualificação – na área de política sobre drogas e direitos humanos – de lideranças comunitárias, trabalhadores e usuários de serviços públicos, em conjunto com a formação de alunos de graduação e pós-graduação.
O foco do CRF consiste, primariamente, no fomento à transformação da vida dos indivíduos que revelam uso problemático de drogas, sob a perspectiva dos direitos humanos, ao mesmo tempo em que se propicia a experiência acadêmica dos estudantes envolvidos. A articulação ocorre entre a universidade, agentes de políticas públicas de saúde, assistência social, educação, cultura, segurança pública e trabalho e agentes do sistema de garantias de direitos dos municípios que compõem a Baixada Santista (Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande, Santos e São Vicente).
De acordo com Luciana Togni de Lima e Silva Surjus, coordenadora do programa e docente do Departamento de Políticas Públicas e Saúde Coletiva do Instituto de Saúde e Sociedade (ISS/Unifesp) - Campus Baixada Santista, diversos fatores justificam a implantação do CRF na região metropolitana da Baixada Santista, como a magnitude e a complexidade da questão das drogas nesse perímetro, relacionadas especialmente às populações em situação de alta vulnerabilidade, e a necessidade de articulação territorial da rede de serviços. “Era fundamental, ainda, qualificar as intervenções profissionais e ampliar o acesso dos usuários dos serviços à universidade e a espaços formativos”, complementa Surjus.
O centro de formação frequentemente articula-se a grupos de trabalho para discutir temas correlatos à prevenção e ao tratamento de problemas com drogas. Elaborados em 2018, os projetos sobre atualização em redução de danos e sobre inclusão social pelo trabalho resultaram da articulação entre a Unifesp, a FapUnifesp e a Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Ambos visaram contribuir com a formulação de um plano integrado de redução de danos na região
Produção de conhecimento e aproximação
Algumas das transformações diretas na universidade, decorrentes da atuação do CRF, referem-se à integração de conteúdos e disciplinas em eixos e módulos interdisciplinares, à adoção de metodologias críticas e inventivas para o ensino e à inserção de novas tecnologias de informação e comunicação. Esses fatores exigem do estudante uma postura ativa na construção, disseminação e socialização do conhecimento. “Há uma conexão possível com o módulo de Terapia Ocupacional em Saúde Mental, além da possibilidade de constituir-se como campo de pesquisa para os trabalhos de conclusão de curso e projetos de iniciação científica”, explica a docente.
O programa de extensão promove, por um lado, o fortalecimento da permanência estudantil na universidade e a ampliação do acesso à educação para a comunidade externa. Por outro, o CRF busca, na prática, aproximar cada vez mais a população da Baixada Santista do universo acadêmico, diminuindo a vulnerabilidade social e econômica e fomentando a cultura dos direitos humanos.
Para a concretização desses objetivos, foram inicialmente propostos dois projetos sob o guarda-chuva do programa principal, que contaram com financiamento advindo de um convênio tripartite entre a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), a Unifesp e a Fundação de Apoio à Unifesp (FapUnifesp): o curso de Atualização em Redução de Danos e o projeto denominado Apoio e Fomento a Experiências em Inclusão Social pelo Trabalho. De acordo com Surjus, o intuito foi maximizar a potencialidade e a efetividade das intervenções de cuidado, ou seja, produzir efeitos positivos sobre toda a rede de serviços para que esta amplie sua capacidade de acolher as demandas, funcionando de modo mais articulado e apresentando respostas adequadas, criativas, efetivas e eficazes.
“Acerca do potencial de inovação do programa principal, podemos identificar a contratação formal de pessoas da comunidade com histórico de uso de drogas e em situação de vulnerabilidade, que promoveram um espaço de legitimação de sua experiência enquanto saber fundamental, para avançar na construção de respostas que atendessem às suas reais necessidades. O trabalho aqui realizado ganha um lugar central no processo de inclusão. A metodologia provocou ainda a horizontalidade do processo de construção de conhecimento, colocando lado a lado diferentes atores e apostando nas trocas e na diversidade como estratégias para a transformação social de todos os envolvidos. Estes passaram a conviver em um espaço comum, produzindo mundos possíveis, que incidiram sobre as barreiras da desigualdade que nos distanciam”, finaliza a coordenadora.
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Unifesp 25 anos de inserção na sociedade
Edição 12 • novembro 2019