Conquista: termo presente em muitos momentos da trajetória de Regina Celes de Rosa Stella. Primeiro, em sua família. Os parentes arriscaram construir uma nova vida no Brasil. A parte paterna veio da Itália; já a materna, da Áustria e da terra nostra. Seu avô, especificamente, chegou com os irmãos para trabalhar no assentamento de trilhos da Estrada de Ferro Central do Brasil e acabou fazendo do bairro do Ipiranga, em São Paulo, sua morada. A região foi cenário de boas histórias: da primeira casa dos pais de Stella, depois de se casarem; dos feriados religiosos, como a Semana Santa, na qual acompanhavam a procissão; e de parte de sua infância, quando brincava com as três irmãs mais novas.
Stella sempre foi aplicada, uma estudante com boas notas. Entre as disciplinas, despertavam-lhe certa preferência a Química e a Biologia, áreas que influenciaram sua decisão pelo vestibular em Medicina anos mais tarde. Por volta de 1953, aos 15 anos, resolveu inclusive ser voluntária do Hospital do Câncer. Em razão da idade, a aceitação de seus préstimos foi complicada, mas acabaram cedendo-lhe parte das tarefas ditas leves, que não envolviam o contato direto com pacientes. Após terminar o colegial, fez cursinho e, em 1958, prestou exame apenas na Escola Paulista de Medicina (EPM). Foi aprovada com felicitações de toda a família.
Não era comum uma mulher seguir a carreira médica. O contraste já era perceptível nas salas de aula: dos 60 ingressantes, apenas seis eram garotas. Stella, contudo, não encontrou motivos para se abalar. O interesse pelas práticas laboratoriais veio logo na graduação, quando participou dos rigorosos treinamentos no Laboratório Central do Hospital São Paulo. Depois da residência em Clínica Médica, fez parte do grupo da Pampulha, apelido do edifício que abrigava os laboratórios de Bioquímica e Farmacologia. Foi a primeira mulher a receber o título de doutorado, concedido em 1968 pela EPM. No ano seguinte, fez o pós-doutorado nos Estados Unidos, na Universidade Columbia.
Acompanhou de perto o crescimento da EPM, principalmente em relação à produção científica, a partir da instalação da pós-graduação. Tornou-se professora e orientadora das primeiras dissertações e teses. Foi chefe da disciplina de Bioquímica e, na sequência, vice-chefe do departamento da mesma especialidade. Nos anos 1990, quando a EPM – já em sua maturidade – foi transformada na Universidade Federal de São Paulo, Stella assumiu a diretoria do Departamento de Assuntos Estudantis e Registros Gerais, responsável pela base de dados que contribuíram para a articulação do processo de transição. Sua sensibilidade para a expansão da instituição e para o crescimento na oferta de outros cursos fez dela a primeira vice-reitora eleita na universidade. Foi, posteriormente, assessora especial da Reitoria para assuntos de planejamento e desenvolvimento e diretora do Departamento de Comunicação e Marketing Institucional.
Dificuldades houve, de fato, mas Stella seguiu em frente e conquistou seu espaço com louvor, fortalecendo o papel da mulher no âmbito institucional e científico.
Regina Stella com seus familiares (nas duas primeiras fotos) / Imagens: Arquivo pessoal
Com Hélio Egydio Nogueira, no dia da posse como vice-reitora da Universidade Federal de São Paulo/ Imagem: Arquivo pessoal
Ao lado de sua colega da Escola Paulista de Medicina, a professora Catharina Maria Wilma Brandi Niggli / Imagem: Arquivo pessoal
Unifesp 25 de qualidade em pesquisa
Edição 11 • junho 2019