“A coisa mais importante para nós, brasileiros, é inventar o Brasil que queremos”, dizia Darcy Ribeiro. Com essa expressão, simples e objetiva, temos um pouco do que a universidade pública sintetiza ou deveria sintetizar: o lugar da educação e do conhecimento. Transposta a frase inicial – simples e objetiva – para o domínio da universidade pública, teríamos que essa instituição, mediante a invenção contínua e contemporânea, cumpre o seu papel social, que é também estratégico para o desenvolvimento da condição humana, a partir de preceitos de autoavaliação e crítica intelectual permanente. A universidade pública sintetiza o lugar da educação e do conhecimento e tem, portanto, uma responsabilidade crescente.
Atenta a essa necessidade e considerando o objetivo de integração interdisciplinar a que se propõe, a Unifesp – uma instituição ao mesmo tempo tradicional e jovem – apresenta um projeto inovador. Sob a coordenação do professor visitante Renato Janine Ribeiro, a Unifesp formou um grupo de trabalho destinado a criar e implantar o Instituto de Estudos Avançados (IEA), com a dupla vocação de estimular e ajudar a viabilizar tanto a realização de pesquisas situadas na fronteira do conhecimento como a formulação de políticas públicas capazes de superar alguns dos grandes desafios enfrentados pelo Brasil.
O instituto será um instrumento estratégico para a universidade, uma vez que adotará o diálogo interdisciplinar como princípio e método, possibilitando avanços revolucionários por meio da colaboração entre especialidades, as quais – de outra forma – permaneceriam circunscritas à própria área de conhecimento.
O convite feito pela Unifesp a Renato Janine Ribeiro não é fortuito. Professor titular da USP, foi ministro da Educação (2015) e diretor da Capes (2004 - 2008), órgão no qual promoveu as avaliações trienais de mais de 2.500 cursos de mestrado e doutorado. Além disso, preside o Conselho de Ética da USP e a Comissão de Ética do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (Cieb), integra o Conselho Superior de Estudos Avançados da Fiesp e participa do Conselho Consultivo do Instituto Inhotim,em Minas Gerais, que abriga um dos mais importantes acervos de arte contemporânea da América Latina.
O diálogo interdisciplinar – como foi dito – fornece uma chave indispensável ao desenvolvimento da pesquisa, em um contexto no qual o grau de especialização atinge níveis cada vez mais elevados. A interlocução permitirá, no caso, que os paradigmas de uma área do conhecimento iluminem outras áreas, provoquem indagações e apontem caminhos inéditos de investigação, como demonstra o exemplo histórico do estudo da geometria, fundamental para o desenvolvimento das ciências no início do período moderno. O espaço dos estudos avançados e convergentes reafirmará e possibilitará a integração entre as diferentes áreas do conhecimento, além de alavancar um outro campo de ação, o da formulação de propostas de políticas públicas, potencializando um caminho que já é percorrido pela Unifesp.
Tampouco é um acaso a criação de grupos de trabalho como método para construir o IEA. É um caminho que reflete a experiência democrática da atual gestão da Unifesp, por meio da qual a voz da comunidade é ouvida e acatada. Assim tem sido na formulação do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), obtido depois de um ano de consultas públicas e discussões com a comunidade; na escolha dos temas transversais de pesquisa; e no processo de construção participativa do Plano Pedagógico Institucional (PPI), atualmente em curso.
Somamos, assim, todas essas experiências recentes, além das imensas contribuições que os nossos próprios pesquisadores e professores têm a oferecer, para atender às demandas oriundas da Unifesp e da sociedade. Numa época de indagações sobre o futuro do país, marcada por cortes gigantescos nos orçamentos destinados à educação, à pesquisa e ao desenvolvimento da ciência e tecnologia, das artes e da cultura, vislumbramos um caminho que pode dar novo fôlego à Unifesp, fortalecendo o projeto de uma universidade mais participativa e inclusiva, que busca sua integração com o propósito de também contribuir para “a invenção do país que queremos”.
Desertos Alimentares - o veneno nosso de cada dia
Edição 10 • julho de 2018