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Cooperação e autogestão moldam propostas de economia solidária

Equipe composta por docentes e estudantes do Campus Osasco encabeçou, em 2019, programa voltado ao desenvolvimento da economia alternativa em Osasco e cidades vizinhas

Imagem com várias fotografias de hortas

De acordo com autores como o economista Paul Singer, economia popular solidária é uma expressão que caracteriza a resposta de determinados setores sociais à exclusão econômica. O popular e o solidário ganharam força por aqui, na década de 1990, como um caminho alternativo, por meio do qual seria possível alcançar a emancipação econômica com base em valores da democracia e da autogestão. Mais de vinte anos após a consolidação desse conceito no país, um grupo formado por docentes e estudantes da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios (Eppen/Unifesp) - Campus Osasco, em parceria com integrantes de movimentos populares, lançaram mão de um programa de extensão totalmente pautado naquele princípio, denominado Escritório Popular de Iniciativas Sociais e Solidárias (Episs).

Coordenado por Flávio Tayra, professor do Departamento de Economia da Eppen/Unifesp, o escritório de economia solidária conta com a atuação dos docentes João Tristan Vargas, Ioshiaqui Shimbo e Alvaro Luis dos Santos Pereira e dos seguintes estudantes de graduação do curso de Ciências Econômicas: Letícia Felicidade, Matheus Montañola, Mateo Tanaka, Wilson Rodrigues e Amanda Oliveira Moreno. Inspirados pela dura realidade brasileira, em grande parte pautada pela desigualdade econômica e social, os idealizadores desse programa de extensão consideram-no uma ferramenta que pode favorecer o desenvolvimento de iniciativas acadêmicas que promovem a participação da população e cujas formas de organização incorporam características da economia solidária – ou seja, cooperação, autogestão, dimensão econômica e solidariedade. 

Dois projetos principais surgiram após a estruturação do Episs: o Programa de Fomento a Iniciativas de Desenvolvimento Social, Econômico e Ambiental, com o objetivo de implantar a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Unifesp junto à Prefeitura de Osasco; e o Acordo Unifesp - Consórcio Intermunicipal da Região Metropolitana Oeste de São Paulo (Cioeste), que visa reunir dados socioeconômicos de Osasco e municípios a oeste da região metropolitana de São Paulo (Araçariguama, Barueri, Carapicuíba, Cotia, Itapevi, Jandira, Pirapora do Bom Jesus, Santana de Parnaíba e Vargem Grande Paulista). 

As iniciativas que se vinculam ao Episs almejam, por um lado, beneficiar pessoas marginalizadas, isto é, que sofrem com renda insuficiente, baixa qualificação e oferta reduzida de vagas, fornecendo-lhes meios que propiciem melhorias relativas ao trabalho, remuneração e reconhecimento de direitos. Por outro, os projetos podem voltar-se para um público indiferenciado, cujo elemento comum é o interesse por formas de solidariedade, sustentabilidade econômico-ambiental e práticas culturais. 

De acordo com o coordenador, o programa existe há pouco tempo, mas já revela ótimas perspectivas. “Submetemos o projeto original do Episs a um edital de apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e obtivemos os recursos, que utilizamos para instalar o escritório. Além disso, em razão desse trabalho, firmamos parceria com a Prefeitura de Osasco, que nos convidou para integrar o Comitê de Gestão Solidária. No momento, estudamos como viabilizar e incrementar a introdução de itens da agricultura familiar na merenda escolar do município. Até dezembro, apresentaremos o resultado das ações deste ano, juntamente com um plano de base para sua continuidade”, relata Tayra.

O docente destaca, ainda, que o programa abriu portas aos estudantes Mateo Tanaka e Wilson Rodrigues, procedentes do Paraguai e de Cabo Verde (África), respectivamente, por meio do Programa de Estudantes - Convênio de Graduação (PEC-G), que oferece oportunidades de formação superior a cidadãos de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos educacionais e culturais. “Os convênios determinam o compromisso do aluno de regressar a seu país e contribuir para a área na qual se graduou”, explica.

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O docente Flávio Tayra e as bolsistas Amanda Moreno (à esquerda) e Letícia Felicidade (à direita) coordenam os projetos atualmente vinculados ao Episs. O trio organiza atividades como o curso de extensão denominado Identificação de Demandas Sociais e Elaboração de Projetos de Economia Solidária, que foi também conduzido por Ioshiaqui Shimbo, professor visitante da Proplan

 

Programa de Fomento a Iniciativas de Desenvolvimento Social, Econômico e Ambiental

Esta vertente é a que foca mais especificamente a linha da economia solidária e atua em parceria direta com o Centro Público de Economia Popular e Solidária de Osasco, vinculado à Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Inclusão do município. Segundo Amanda Oliveira Moreno, bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), a intenção, no caso, é compreender melhor e disseminar a agricultura urbana dentro de um planejamento integrado. Além disso, o programa propõe-se subsidiar a formulação de políticas públicas específicas que colaborem para a implantação de cidades sob condições de vida mais adequadas e menos impactantes para o meio ambiente. “No decorrer do trabalho, serão mapeadas as experiências de agricultura urbana em Osasco, estudados os arranjos produtivos e administrativos internos dos empreendimentos e avaliados os impactos no entorno.”

 

Projeto de implementação do Acordo Unifesp - Cioeste

O acordo entre a Unifesp e o Consórcio Intermunicipal da Região Metropolitana Oeste de São Paulo (Cioeste) privilegia os estudos socioeconômicos – gerais e específicos – dos seguintes municípios: Osasco, Araçariguama, Barueri, Carapicuíba, Cotia, Itapevi, Jandira, Pirapora do Bom Jesus, Santana de Parnaíba e Vargem Grande Paulista. As áreas de maior interesse para as duas entidades são a economia local, a gestão municipal, as finanças públicas e as relações institucionais. Letícia Felicidade, bolsista do Pibic à frente desse projeto, explica que sua principal meta é mapear e analisar dados sobre educação, saúde, mobilidade urbana e outros tópicos referentes à população das cidades mencionadas. Para ela, trata-se de uma oportunidade para integrar o conhecimento teórico (que obtém nas aulas do curso de graduação em Ciências Econômicas) e a prática, com “pitadas” de solidariedade: “A ação torna-se importante por permitir questionar a realidade, as causas dos conflitos e as formas possíveis de intervenção, com maior participação popular. Não é uma opção fácil, mas estamos aprendendo e buscando caminhos para a ampliação do projeto”, afirma.


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Unifesp 25 anos de inserção na sociedade
Edição 12 • novembro 2019