Na época em que atuava no Centro de Pesquisa em Meio Ambiente da Universidade de São Paulo (Cepema/USP), Ana Maria Santos Gouw colaborou com uma ação bem parecida com a oferecida no programa de extensão que introduziu no Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) - Campus Diadema, em 2017, o Centro Aprendiz de Pesquisador (CAP – Diadema). Com a finalidade de difundir o conhecimento gerado em universidades, centros de pesquisa e setor industrial à comunidade de modo geral, o Cepema/USP passou a organizar visitas monitoradas de estudantes às suas dependências, em Cubatão (litoral de São Paulo). Com base nessa vivência, a ação extensionista da Unifesp já submeteu mais de 1.500 estudantes da rede pública a atividades experimentais no Campus Diadema, aproximando estudantes da educação básica do município de Diadema e região do ICAQF/Unifesp por meio da promoção de um espaço não formal de educação.
Conforme explica Gouw, é necessário que as escolas interessadas agendem a visita e aguardem a confirmação de disponibilidade dos laboratórios destinados à recepção dos estudantes para que possam acompanhar as pesquisas e vivenciar na prática a rotina científica. Já durante a excursão, os próprios estudantes dos cursos de graduação (bacharelado e licenciatura) do ICAQF/Unifesp monitoram os participantes, propõem atividades investigativas e convidam à reflexão teórica sobre os temas abordados, tornando essas imersões espaços onde a observação, a experimentação e o levantamento de hipóteses sejam vivenciados de forma alegre e significativa, e acompanhem, se possível, o currículo pedagógico das escolas envolvidas.
As experiências são previamente acertadas com as escolas. Figuram no topo das solicitações: a microscopia ótica, fermentação, pH e saúde, estudo do DNA, física e corpo humano, abarcando as três principais áreas das ciências naturais (Física, Química e Biologia). “Apresentamos a universidade e exibimos o vídeo institucional, abordamos os cursos oferecidos no ICAQF/Unifesp e explicamos como funciona o sistema de ingresso. Depois disso, organizamos os visitantes em pequenos grupos, já que o laboratório tem uma disposição arquitetônica que suporta de 10 a 12 pessoas por bancada”, explica a docente da Unifesp.
A docente comenta que, no momento, a Diretoria do campus atua para firmar um termo de cooperação com a prefeitura municipal de Diadema e o Governo do Estado, por meio das suas respectivas diretorias de ensino, o que facilitará bastante a comunicação com as escolas e o convite dos estudantes para outras visitas ao laboratório.
Centro Educacional de Diadema
Colégio Camp
Escola Estadual Diadema
Escola Estadual José Marcato
Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Rosalvito Cobra
Escola Municipal de Educação Básica Olga Benário Prestes (EJA)
O trabalho desenvolvido por Ana Maria Gouw e Paloma Marques atendeu, até o momento, mais de 1.500 estudantes da rede pública no município de Diadema
Com a mão na massa
Paloma Marques, que concluiu seu mestrado em Ensino de Ciências e Matemática em agosto deste ano, acompanhou a introdução do CAP - Diadema e foi a principal voluntária da ação. “O piloto do projeto ocorreu em 2017, com estudantes da modalidade Ensino de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Municipal de Ensino Básico (Emeb) Cora Coralina, bem próxima do campus. “Na ocasião, desenvolvemos atividades que envolviam temas da área da saúde e atividades de observação celular. Como eram pessoas mais velhas, foi desafiador em razão da linguagem que precisamos adotar na comunicação com esses estudantes, acostumados às formalidades da sala de aula”, conta.
O aprender na prática, quando se fala desse programa de extensão, é outro aspecto positivo, possibilitando uma intensa troca entre a licenciatura e o ensino básico público. Marques cita a satisfação dos graduandos ao receberem os estudantes de educação básica; a experiência apresenta a oportunidade de dar aulas de verdade sem ter concluído a graduação, especialmente para quem ainda não conquistou uma vaga de estágio. Já a percepção da ex-mestranda sobre o outro baseia-se em sua vivência de 2017, com estudantes de EJA, quando notou a facilidade com que essas pessoas interagiram durante a atividade sobre fermentação.
“Por serem adultos, costumam cozinhar e fazer massas de pão em suas casas. Aproveitamos a experiência pessoal deles para abordar a fermentação alcóolica, oferecendo os materiais que são necessários para propiciar uma investigação sobre o tema (água morna e em temperatura ambiente, açúcar, sal, farinha de trigo, amido e fermento biológico). Cada grupo recebeu um Erlenmeyer (frasco em forma cônica usado para manuseio de substâncias) e uma bexiga e foi solicitado às pessoas que, a partir de suas experiências, escolhessem três ingredientes para realizar o processo de fermentação. A discussão das escolhas permitiu que os estudantes compreendessem as vivências pessoais em relação à produção de pães e outros produtos. Com isso, explicamos a importância da farinha e do açúcar para o fornecimento de energia ao fermento (um tipo de fungo), de como a água morna auxilia na ativação e aceleração do processo e das reações químicas que participam da fermentação alcóolica”, finaliza.
De acordo com Gouw, o vínculo do programa CAP - Diadema ao curso de Ciências - Licenciatura, mediante a política de curricularização da extensão da Unifesp, tem trazido experiências positivas na formação de professores. “Ficamos, por algum tempo, dependentes de estudantes voluntários que se interessassem em monitorar as visitas ao laboratório. Hoje contamos com a atuação permanente dos cursos de graduação do ICAQF/Unifesp, e essa integração tem fortalecido suas experiências como futuros docentes e a técnica da prática pedagógica a partir da interação com o público escolar”, finaliza Gouw.
Unifesp 25 anos de inserção na sociedade
Edição 12 • novembro 2019