A Coordenadoria de Direitos Humanos (CDH/Unifesp) concentra programas de extensão institucionais voltados especificamente à promoção da cidadania de jovens e idosos, refugiados e indígenas. Aqui falamos dos cursinhos populares, da Universidade Aberta para as Pessoas Idosas (Uapi/Unifesp), do Memorial Digital do Refugiado (MemoRef), da Licenciatura Indígena (em fase de estruturação) e da Cátedra Kaapora. Conforme explica Débora Galvani, docente da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH/Unifesp) - Campus Guarulhos, a meta da coordenadoria consiste em acompanhar e cuidar das ações, intercampi e interdisciplinares, que dizem respeito a ampliar o acesso à universidade por meio da promoção dos direitos humanos. “Trata-se de abraçar a questão do envelhecimento, o acesso das pessoas idosas à universidade e as práticas intergeracionais (no caso das Uapis), ou valorizar as iniciativas de ampliação de acesso à educação para uma população que, no geral, não consegue acessar (no caso dos cursinhos”, elucida.
Universidade Aberta para as Pessoas Idosas (Uapi): nunca é tarde para aprender
“Hoje eu sinto a essência da vida, coisa que eu não sentia antes”. A frase de Esther de Carvalho, 83 anos, estudante da unidade de São Paulo da Universidade Aberta para as Pessoas Idosas (Uapi/Unifesp), resume a importância e o impacto do projeto, tanto para a universidade quanto para as pessoas que são beneficiadas por ele.
Criada em agosto de 1999, tem como propósitos principais a reciclagem do conhecimento, a socialização, a inserção social e atualização, destacando-se como uma das iniciativas pioneiras no Brasil na área. As aulas são voltadas para maiores de 60 anos, seguindo a classificação de pessoas idosas da Organização Mundial da Saúde, e cada um dos projetos oferece a seus estudantes aulas sobre diversos temas- artes, curso de línguas, direitos humanos e inclusão digital.
Com o processo de expansão da universidade, o curso também se expandiu, e atualmente conta com cinco unidades: São Paulo, Baixada Santista, Diadema, Embu das Artes e Santo Amaro. O próximo passo, que já está sendo discutido entre os coordenadores das Uapis e a Coordenadoria de Direitos Humanos, é a criação do núcleo das universidades abertas à pessoa idosa, o que, na visão geral, contribuirá para garantir a continuidade do trabalho realizado.
Primeira unidade em funcionamento, a Uapi/Unifesp do Campus São Paulo existe desde 1999. Nesses 20 anos, já recebeu mais de 1.500 idosos. Coordenada por Claudia Ajzen, que participa das atividades desde o início, conta com aulas todas as terças e quintas-feiras à tarde, contemplando, anualmente, 80 discentes. Devido à grande procura, é necessário que o(a) candidato(a) entre em uma lista de espera para a matrícula. O curso tem duração de um ano.
Na Baixada Santista, a Uapi/Unifesp funciona desde 2006 - um dos primeiros projetos de extensão do campus, e já beneficiou cerca de 1.300 idosos. Anualmente são abertas duas turmas de 50 pessoas cada, com aulas às sextas-feiras, no período da tarde. Durante o curso, além das atividades regulares oferecidas, os estudantes podem se matricular em algumas disciplinas dos cursos de graduação que oferecem vagas específicas para a Uapi/Unifesp, e também de participarem de outros projetos de extensão oferecidos pelo campus. O projeto é coordenado por Ricardo Guerra, docente do curso de Educação Física do Instituto de Saúde e Sociedade (ISS/Unifesp).
Além desses, são ofertadas 50 vagas no Campus Diadema e 30 vagas na Unidade de Extensão de Embu das Artes. Na Unidade de Extensão de Santo Amaro, as atividades focam em práticas contemplativas e inclusão digital.
A coordenadora da Uapi/Unifesp em São Paulo, Claudia Ajzen, ministrando aula para os estudantes da unidade (Fotografia: Alex Reipert)
Grupo de estudantes da Uapi/Unifesp na Baixada Santista apresentando trabalho (Fotografia: Alex Reipert)
Cursinhos comunitários – Um empurrãozinho para a vida acadêmica
Os cursinhos comunitários são iniciativas organizadas por estudantes e servidores da Unifesp que visam auxiliar os egressos do ensino fundamental e médio a se prepararem para concursos de vestibulinho e vestibular de acesso a escolas técnicas estaduais, institutos federais e universidades.
Dispostos a promover a inserção social desses jovens e adultos, muitos com defasagem em seu aprendizado, seus professores trabalham com atividades que estimulam a formação cultural, coletiva e política.
Alguns desses cursinhos chegam a garantir um índice de 30% de aprovação nos vestibulares das principais universidades.
Estudantes do Cursinho Popular Pimentas Unifesp (CPPU) / Imagem: divulgação em rede social
Cursinho Pré-vestibular Jeannine Aboulafia (Cuja)
- Campus: São Paulo
- Fundado em: 2001
- Vagas ofertadas: 168
- Público-alvo: Estudantes e egressos de escolas públicas ou de baixa renda
- Inscrições: Início de dezembro
- Processo seletivo: Avaliação socioeconômica e prova de conhecimentos gerais
- Custo: O curso é gratuito, com uma taxa de inscrição (R$ 20) e uma de matrícula (R$ 30)
Cursinho Popular Cardume
- Campus: Baixada Santista
- Fundado em: 2012
- Vagas ofertadas: 120
- Público-alvo: Estudantes e egressos de escolas públicas
- Inscrições: Início de fevereiro
- Processo seletivo: Avaliação socioeconômica
- Custo: O curso é totalmente gratuito
www.unifesp.br/campus/san7/extensao/cursinho-poupular-cardume
Cursinho Popular Pimentas Unifesp
- Campus: Guarulhos
- Fundado em: 2009
- Vagas ofertadas: 320
- Público-alvo: Estudantes e egressos de escolas públicas
- Inscrições: Em janeiro
- Processo seletivo: Por meio da análise de uma redação
- Custo: O curso é gratuito, com uma taxa de inscrição (R$ 10)
Articula Cursinhos - Cursinho Integra e Cursinho do GEB
- Campus: Diadema
- Fundado em: 2017
- Vagas ofertadas: 60
- Público-alvo: Estudantes e egressos do ensino médio
- Inscrições: Início de fevereiro
- Processo seletivo: Inscrição on-line
- Custo: O curso é gratuito, com uma taxa de matrícula (R$ 40)
MemoRef - Apoio aos que buscam uma nova vida
Dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) apontam que o número de refugiados no mundo cresceu 50% nos últimos 10 anos, alcançando 25,4 milhões de pessoas nessa situação. Essa crescente movimentação social demanda aos países que os recebem uma série de ações de acolhimento.
Uma dessas ações surgiu em 2015, pelas mãos de Marina Reinoldes, graduada em Letras pela Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (EFLCH/Unifesp) – Campus Guarulhos. Quando discente, ela ministrava voluntariamente aulas na ONG Oásis Solidário, na mesquita do Pari, e resolveu convidar outros colegas de curso para ajudarem. “Como a procura foi grande, decidi tentar levar o projeto para a EFLCH/Unifesp e começamos a organizá-lo”, explica.
O programa possui três eixos principais: ações culturais que integram a comunidade acadêmica ao entorno, aulas de língua e cultura brasileira para refugiados, alimentação do memorial digital do refugiado, contando por meio da história oral o relato de vida dos estudantes. Além do apoio institucional, que ocorre por meio da CDH/Unifesp, da qual o programa faz parte, atualmente, o projeto tem apoio da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, da ACNUR e do Conselho Municipal de Assistência Social de Guarulhos. Em 2018, expandiu suas atividades para o Campus São Paulo da Unifesp e recebeu o Selo de Direitos Humanos e Diversidade, concedido pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo (SMDHC/SP), concedido a empresas e organizações que promovem políticas de inclusão de diferentes segmentos da população no mercado de trabalho.
O ensino da língua portuguesa também é oferecido por meio de um curso oferecido pela própria CDH/Unifesp, voltado para a inserção de estudantes estrangeiros em cursos de graduação da universidade, por meio do Programa Estudante Convênio de Graduação (PECG). “O curso é pioneiro no Estado de São Paulo e além de ser um curso de português, é um programa de acolhimento, já que muitos desses estudantes passam por situações de racismo e xenofobia na sociedade e nós montamos esse programa já sabendo de tudo isso e pensando em estratégias de acolhimento,” explica Galvani.
Outra ação ligada ao apoio aos refugiados é o Curso de Saúde Mental, Imigração e Interculturalidade. Nascido como um curso de curta duração, em três anos tornou-se um curso de especialização, com oferta de trinta vagas anuais, mas com uma procura bem maior do que isso. “Esse ano tivemos cerca de 500 inscrições no curso. Se tivéssemos mais estrutura, provavelmente teríamos chance de ampliá-lo”, afirma Galvani, uma das coordenadoras do curso. Para ela, a atividade é importante, já que o tema ainda é pouco discutido nas universidades. “A gente percebe uma demanda enorme de gente que está atendendo nos serviços de saúde, assistência e educação, em ONGs, com pouca formação em relação às demandas dos imigrantes”, completa.
www.facebook.com/memorialdorefugiado/
Turma de estudantes do MemoRef (Fotografia: José Luiz Guerra)
Um dos materiais didáticos produzidos pela equipe do MemoRef (Fotografia: José Luiz Guerra)
Licenciatura indígena - Espaço para discussão sobre saberes dos povos indígenas e quilombolas
Um espaço para propor formas de troca e diálogos com grupos tradicionais, populares, não hegemônicos e não ocidentais. Com essa missão, a Cátedra Kaapora foi instalada na Unifesp em 2014. Desde então, foram realizadas inúmeras atividades, com o intuito de passar os ensinamentos relativos às culturas indígenas e quilombolas, geralmente contadas pelos próprios membros dessas comunidades, aos estudantes da Unifesp.
Coube também à cátedra e à Coordenadoria de Direitos Humanos atuar no apoio ao desenvolvimento da licenciatura indígena. A partir de uma demanda do Fórum de Professores Indígenas do Estado de São Paulo (Fapisp) e do Comitê Interaldeias de São Paulo, a Unifesp se mobilizou para pensar em estratégias de apoio à formação na área, diante da impossibilidade imediata de criar uma licenciatura. “Quando a gente recebe essa demanda, a Cátedra Kaapora é convidada a nos ajudar na discussão e no entendimento e a demanda deles é bastante específica, que é de conteúdo e perspectiva de ensino, como a gente cria uma forma de produção de conhecimento atrelada às aldeias, à demanda das escolas indígenas, e também uma demanda dos professores”, diz Galvani.
E pensar em licenciatura indígena não se restringe apenas ao currículo, mas às características desse público, alternando atividades na universidade e nas aldeias, situadas na região de Parelheiros, extremo sul de São Paulo, permitindo a manutenção das tradições indígenas. “Tomamos todos os cuidados com alojamento, com as crianças. Já que as famílias não podem se separar das mães, precisa de espaço para manter as suas práticas, como a alimentação, a reza, o fumo, a presença do Pajé, se alguém adoece... são vários elementos e a concepção do curso precisa levar em conta tudo isso”, completa a coordenadora da CDH/Unifesp.
Atividade de construção do Projeto Político-Pedagógico da Licenciatura Indígena
Coordenadores do projeto de Licenciatura Indígena da Unifesp e professores indígenas
CAAF/Unifesp consolida modelo de investigação sobre violação de direitos humanos no Brasil
O Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF/Unifesp) tem desenvolvido, durante seus cinco anos de existência, projetos importantes com foco na defesa dos direitos humanos. Os dois principais são a pesquisa sobre os Crimes de Maio de 2006, que investigou os episódios de violência de Estado a partir das execuções ocorridas na região da Baixada Santista há 12 anos, e o Grupo de Trabalho Perus (GTP), instituído em 2014 a partir de um acordo de cooperação técnica entre as Secretarias Nacional e Municipal de Direitos Humanos e a Unifesp, com a finalidade de analisar os restos mortais encontrados em 1990 no local que ficou conhecido como vala clandestina de Perus, no Cemitério Dom Bosco, na zona norte de São Paulo.
Dois cursos, vinculados à Coordenadoria de Direitos Humanos da Proec/Unifesp, decorrem da consolidação do órgão: o curso de especialização em Antropologia Forense e Direitos Humanos, criado em 2017, e o curso de especialização em Direitos Humanos e Lutas Sociais. A especialização em Antropologia Forense, fruto de uma parceria do centro com a Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) do Governo Federal e do apoio da Secretaria de Segurança Pública Nacional (Senasp). Já a especialização em Direitos Humanos e Lutas Sociais busca articular os saberes emergentes das lutas com a produção acadêmica, objetivando qualificar a trajetória e a atuação das várias militâncias e ativismos em direitos humanos.
Unifesp 25 anos de inserção na sociedade
Edição 12 • novembro 2019