Com um projeto inédito, o Ambulatório de Cognição Social da Universidade Federal de São Paulo (TEAMM/Unifesp) deu início à programação de oficinas gratuitas, idealizadas para auxiliar na inclusão e convivência social de jovens e adultos com transtornos do espectro autista (TEA). O quadro clínico do TEA abrange principalmente déficits em duas áreas: comunicação social e comportamentos repetitivos e estereotipados. As atividades acontecem no Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM), localizado na Vila Mariana, em São Paulo.
O projeto terá uma agenda de atividades presenciais supervisionadas por profissionais voluntários sob a responsabilidade do TEAMM/Unifesp. Por meio das oficinais e dinâmicas que envolvam esporte e cultura, como arte, música, cinema e teatro, será trabalhado e desenvolvido o protagonismo de adolescentes e adultos com autismo.
“Com as atividades artísticas e esportivas, também será possível desenvolver habilidades de autonomia, ampliar oportunidades de comunicação e interação social e habilidades motoras entre pares”, explica Daniela Bordini, médica psiquiatra e coordenadora do ambulatório TEAMM/Unifesp.
Daniela destaca que as atividades, inicialmente, acontecem no CAISM, mas, “posteriormente, pretende-se também capacitar profissionais que atuem nos SESCs, clubes, parques, entre outros, para que eles conheçam melhor as características do autismo e saibam como lidar com essas pessoas e integrá-las com as pessoas neurotípicas”.
Conscientização
Além dos encontros presenciais, o projeto levará o tema para toda a sociedade utilizando grupos online semanais e fóruns públicos mensais de discussão, incluindo a elaboração de uma campanha anti-estigma e apresentações em espaços públicos/abertos.
A prevalência mundial estimada de TEA é 0,72 a 1%, e o transtorno está associado a um grande impacto social. Considerando a estimativa conservadora do único estudo de prevalência brasileiro, devem existir aproximadamente 40 mil crianças e adolescentes com TEA, só no Estado de São Paulo.
Entre as dificuldades na comunicação social das pessoas com autismo, destacam-se o isolamento ou falta de interesse de se relacionar com outras pessoas, déficits na atenção compartilhada e em brincadeiras simbólicas, diminuição/ausência de contato visual, inabilidade para estabelecer amizades e relacionamentos afetivos duradouros, além da dificuldade para compreender e usar a comunicação não-verbal.
“No domínio dos comportamentos restritos e repetitivos, é comum a identificação de comportamentos ligados à adesão exagerada a rotinas com ou sem estereotipias motoras (balançar para frente e para trás, flapping, andar na ponta dos pés) ou vocais (gritos inadequados, barulhos ou sons contínuos), além de restrição de interesses e assuntos, inflexibilidade e ainda alterações sensoriais com hiper ou hiporesponsividade sensorial”, explica a coordenadora do TEAMM/Unifesp.
Mais qualidade de vida
Aproximadamente 85% dos indivíduos com transtornos do espectro autista (TEA) apresentam limitações cognitivas e/ou adaptativas que limitam sua capacidade de viver de forma independente, levando à possibilidade de necessitar de alguma forma de cuidado ou assistência de seus pais e familiares para o resto de suas vidas.
“Crianças, adolescentes e, principalmente, adultos com transtornos do espectro autista e seus familiares ainda hoje continuam vivendo à margem da sociedade, sem projetos que de fato permitam a inclusão em atividades lúdicas, convívio social, acesso aos serviços de saúde adequados e mesmo inclusão escolar. A disseminação de práticas de inclusão e proteção social de pessoas com TEA é crescente, mas, ainda é vigente na sociedade uma visão de exclusão solidária e capacitismo. São frequentes os relatos de situações de preconceito em áreas sociais comuns, como parques, shoppings e supermercados. O mesmo também acaba ocorrendo em escolas, justamente pela falta de capacitação adequada dos profissionais, assim como desconhecimento dos alunos”, ressalta Daniela.
A médica destaca ainda que, nesse aspecto, “crianças e adolescentes com TEA muitas vezes não têm acesso à educação inclusiva, podendo ser indireta ou explicitamente recusados e excluídos. Na vida adulta, o cenário fica ainda pior, por existirem pouquíssimos investimentos e iniciativas para essa população nesta faixa etária. Isso, sem deixar de citar como a pandemia agravou ainda mais uma realidade que já era desafiadora para esses pacientes e suas famílias, os deixando ainda mais isoladas socialmente e com menos oportunidades de convívio social e no mercado de trabalho”.
A iniciativa tem previsão de alcançar 80 adolescentes e adultos com TEA para as oficinas de teatro/cinema e mais 120 para cada oficina de artes plásticas, música e práticas esportivas, além de capacitar 400 profissionais da rede de locais de convivência, com o intuito de alcançar cerca de mil membros da comunidade através de fóruns de discussão, campanha anti-estigma e apresentação de amostras culturais, promovendo o conhecimento e minimizando o preconceito relacionado ao TEA.
Interessados em mais informações, bem como na programação de oficinas podem solicitar pelo e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..