Uma colaboração técnica entre a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a empresa de biotecnologia Vaxinz irá permitir o início dos estudos clínicos de uma vacina contra o coronavírus que mostrou uma potente resposta imunológica em estudos pré-clínicos com animais. A parceria foi assinada hoje (26/5), no anfiteatro Leitão da Cunha, no Campus São Paulo da Unifesp. O imunizante foi desenvolvido por pesquisadores do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (CONICET, na sigla em espanhol) no Instituto Leloir, em Buenos Aires.
Para o coordenador do projeto, Osvaldo Podhajcer, chefe do Laboratório de Terapia Molecular e Celular (LTMC) da FIL e pesquisador sênior do CONICET, as primeiras observações são animadoras. "Queremos informar que os resultados dos estudos pré-clínicos confirmam que a vacina gera uma potente resposta imunológica contra o vírus Sars-CoV-2 em 100% dos animais vacinados. E que a proteção é mantida por, pelo menos, cinco meses sem se deteriorar", afirma. “Junto com o grupo da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) pudemos comprovar que o soro dos animais imunizados foi capaz de bloquear também a entrada nas células do vírus Sars-COV-2 vivo e testaremos contra as novas variantes do vírus nas próximas semanas”, acrescentou Sabrina Vinzón, co-coordenadora do projeto.
Manoel Girão, diretor da EPM/Unifesp, explica que a colaboração técnica com a Vaxinz se estabeleceu de forma natural e sinérgica. "Desde os primeiros contatos, foi possível perceber o grande potencial de complementação de capacidades. Estabelecemos as etapas iniciais da parceria e começamos os ensaios de neutralização viral, etapa dos estudos pré-clínicos da vacina para covid-19. Na sequência, está prevista nossa participação nos estudos clínicos, a depender da aprovação dos órgãos reguladores", explica o diretor.
O consórcio procurou estabelecer uma estrutura de colaboração regional na América Latina para encarar o desafio da pandemia. Com esse objetivo em mente, foi estabelecida uma aliança estratégica com a EPM/Unifesp, liderada por seu diretor, tendo como coordenadores os pesquisadores Francismar Vidal e Walace Pimentel. A equipe de pesquisa foi liderada pelos(as) docentes Tatiana Bonetti, Mario Janini e Juliana Maricato.
Ainda segundo o diretor da EPM/Unifesp, outras iniciativas, como o desenvolvimento de novas drogas, estão em elaboração. "É um fato que muito nos alegra, pois iniciativas como essa, aproximando centros de excelência latino-americanos, permitirá o desenvolvimento tecnológico de toda a região. Uma iniciativa de grande relevância, como sobejamente demonstrado por essa pandemia, que traz segurança de acesso para as nações latino-americanas às novas terapias", complementa.
O Laboratório de Estudos em Virologia e Patogênese Viral da EPM/Unifesp (LEVIP) está realizando os testes de neutralização das diferentes variantes do Sars-CoV-2 na fase pré-clínica, especialmente da a variante P1, originada em Manaus e já presente em todo o Brasil. Trata-se de uma etapa fundamental para o desenvolvimento de vacinas contra variantes regionais do vírus. Dentro deste quadro de colaboração, prevê-se em breve analisar a proteção conferida pela vacina contra as novas variantes que atualmente circulam na região.
Monitoramento de eficácia para diferentes variantes
A Verónica López, uma das líderes do projeto e pesquisadora do CONICET no LTMC da FIL, esclarece o que torna essa vacina diferente. “Desenvolvemos uma vacina de segunda geração com um design inovador baseado em vetores adenovirais híbridos diferentes daqueles usados em vacinas baseadas no mesmo tipo de vetores e já aprovado em caráter emergencial”, explica López.
“Os resultados pré-clínicos em roedores mostraram que as vacinas desenvolvidas induzem tanto anticorpos que neutralizam o vírus quanto uma resposta imune celular contra ele, que é o que se busca para obter proteção”, disse a Dr.ª Sabrina Vinzón.
Paralelamente, o grupo de Podhajcer desenvolveu um sistema de pseudovírus que permitiu demonstrar em estudos in vitro que o soro de animais imunizados bloqueia a entrada do novo coronavírus nas células. “Estamos usando esse sistema desenvolvido pelo nosso grupo para monitorar novas variantes emergentes para produzir vacinas complementares que protejam contra essas variantes”, destacam Vinzon e Felipe Nuñez, também pesquisador do LTMC.