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Opinião: Treinamento parental por meio de “videomodelação” pode ser uma técnica eficaz no tratamento de crianças com autismo e deficiência intelectual

Melhorias significativas no QI não-verbal, comunicação e sintomas de TEA, indicam que essa abordagem pode ser uma técnica útil e eficaz para o tratamento dessas crianças

Os Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) acometem em torno de 1% da população mundial e suas primeiras manifestações ocorrem nos primeiros anos de vida afetando várias áreas do desenvolvimento ao longo da vida. Em linhas gerais, o tratamento precisa ser individualizado, multiprofissional, intensivo, especializado e o mais precoce possível.

No Brasil, contamos com um pequeno número de profissionais capacitados e uma grande demanda não atendida na rede de saúde pública e privada.

A psicoterapia análise aplicada do comportamento (ABA) é uma intervenção de eficácia comprovada no tratamento de prejuízos sociais, comunicativos e funcionais de indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), porém, sua recomendação é que seja aplicada de forma individualizada e intensiva, o que encarece e inviabiliza o tratamento para a maioria das famílias de baixa renda de crianças com TEA.

O treinamento de pais para auxiliar no tratamento dos filhos com TEA já está bem estabelecido como eficaz e possibilita aumento expressivo no número de horas de estimulação, na casa da criança, o que acaba facilitando a generalização das habilidades aprendidas.

O principal objetivo desse estudo foi desenvolver e testar a eficácia de um modelo de intervenção parental, por meio de “videomodelação”, ou seja, o pai assiste e “imita” o que a terapeuta faz com a criança com TEA em cada vídeo. No final do treinamento, as crianças deveriam apresentar melhora funcional do dia a dia e dos sintomas de TEA e Deficiência Intelectual (DI).

Para isso, nossa equipe de pesquisa submeteu e ganhou uma verba de pesquisa um edital da Fapesp com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal №28/2012 (Processo: 2012/51584).

Realizamos um ensaio clínico multicêntrico randomizado, treinando os pais por meio de vídeos gravados por psicoterapeutas altamente especializadas em TEA. No total, avaliamos 66 crianças diagnosticas com TEA, sendo que 34 crianças foram treinadas pelos pais que recebiam um vídeo/semana, e 32 crianças ficaram no grupo controle (e só receberam os vídeos depois de terminar o ensaio).

Este treino foi realizado concomitantemente em três centros universitários (Universidade Federal de São Paulo, Universidade de São Paulo e Universidade Presbiteriana Mackenzie), e foram utilizadas técnicas da ABA (como aprendizagem sem erro, tentativa discreta, hierarquia de dicas e “videomodelação”) para ensinar os pais técnicas de estimulação de contato visual (a criança com TEA olhar para os olhos das pessoas) e atenção compartilhada (olhar para o que os outros estão olhando) nas crianças com TEA e DI.

Esse ensino foi feito através de 15 vídeos-aula em grupo e discussões com as profissionais que acompanhavam as sessões sempre tentando sanar dúvidas com o próprio material elaborado nos vídeos. Os pais recebiam uma cópia do DVD do capítulo correspondente pra assistir em casa e uma folha de registro para anotar que nível de ajuda a criança precisou no treino.

Os pais deveriam fazer oito blocos de nove tentativas, duas vezes ao dia em períodos diferentes e de segunda a domingo. A criança nessa fase tinha 72 oportunidades diárias para praticar as habilidades que estavam sendo instaladas. Tivemos uma boa taxa de adesão e poucas perdas ao longo do projeto o que favoreceu a aquisição de dados e não comprometeu a qualidade de análise estatística.

Os resultados principais foram: aumento significante do QI (não-verbal) e da comunicação na escala Vineland e uma melhora sem significância estatística dos sintomas de TEA. Pode-se concluir que esse treinamento parental por meio de “videomodelação” pode ser uma técnica útil e eficaz para melhora no tratamento de crianças com TEA e DI.

O desenvolvimento e a demonstração da eficácia dessa intervenção testada nesse projeto poderão ter grande impacto no tratamento de crianças com TEA pois possibilitará treinamento de grande quantidade de profissionais e familiares, sem custo e em todas as regiões do país.

Link do pdf do artigo publicado (clique aqui).

*Psiquiatra da Infância, Adolescência e Vida Adulta pela Unifesp, com mestrado concluído e doutorado em andamento em Psiquiatria e Psicologia Médica na Unifesp, com foco na área do autismo, e coordenadora do Ambulatório de Cognição Social Professor Marcos Tomanik Mercadante (TEAMM/Unifesp) desde 2011

Links para os vídeos do treinamento parental para melhora de contato visual e atenção compartilhada — TEAMM/Unifesp

Introdução ao projeto
https://youtu.be/UeZdcOIkKDc

1. Preparação do ambiente
https://youtu.be/uNLhW5O8-BU

2. Manejo de comportamentos disruptivos
1) https://youtu.be/l_Q5WX7QaYI
2) https://youtu.be/00VuPvEA7YA
3) https://youtu.be/xSKaez3aEdc
4) https://youtu.be/Suxaezt4Qgo
5) https://youtu.be/vCw8Gf77Zp0

3. Itens de preferência
https://youtu.be/2cVodkpbcOA

4. Aprendizado sem erro
https://youtu.be/uVt7rRquOYo

5. Contato visual nível 1 — ajuda física total
https://youtu.be/-NsPopVWug8

6. Contato visual nível 2 — ajuda física leve
https://youtu.be/CmRyrh21Wi8

7. Contato visual nível 3 — ajuda física gestual
https://youtu.be/9psGCTliPe8

8. Contato visual nível 4 — independente
https://youtu.be/4xypIhVMGt8

9. Contato visual em ambiente natural
https://youtu.be/Mx9sqb7j3mc

10. Atenção Compartilhada nível 1 — ajuda física total
https://youtu.be/duJHrtRiVEg

11. Atenção Compartilhada nível 2 — ajuda física leve
https://youtu.be/pu1kR3sjEtc

12. Atenção Compartilhada nível 3 — ajuda física gestual
https://youtu.be/3mve_75i49o

13. Atenção Compartilhada nível 4 — independente
https://youtu.be/Fz5A0tNnDd0

14. Atenção Compartilhada em ambiente natural
https://youtu.be/wHX667TSewU

15. Resumo
https://youtu.be/hxVUnEnMjAY

Todos os vídeos estão disponíveis gratuitamente no Youtube para uso livre.

 

As opiniões expressas neste artigo não representam a posição oficial da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

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