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Opinião: O segredo das garras de caranguejos brigões

Em competições esportivas entre humanos, a separação em categorias de peso ocorre devido ao potencial muscular e essa relação também pode influenciar a forma e o tamanho das estruturas utilizadas em lutas, como as garras dos caranguejos.

Imagem de dois aranguejos "brigando"

Em qualquer esporte de luta entre humanos, os competidores são separados em categorias de peso. Grandes lutam contra grandes, pequenos contra pequenos. Você já parou para pensar o porquê isso acontece?

Uma das explicações está no potencial muscular que cada um pode gerar. Indivíduos grandes têm maior potencial para produzir força em socos ou chutes do que indivíduos pequenos. Sempre haverá variação, claro, mas, em média, indivíduos grandes têm um potencial muscular maior que indivíduos menores. É até por isso que lutadores profissionais treinam tanto: eles precisam de músculos poderosos para que seus socos e chutes tenham efeito nos adversários.

Em lutas entre atletas profissionais, essas relações entre músculo e tamanho não parecem tão importantes; afinal, todos estão treinados e no auge da sua forma física. Outras variáveis, como estilo de lutar, habilidade, saber usar alavancas, tornam-se até mais importantes. Porém, quando olhamos para confrontos agressivos entre animais, principalmente aqueles entre machos durante o período reprodutivo, fatores como força muscular e tamanho tornam-se importantíssimos para decidir quem irá vencer (e, consequentemente, se reproduzir).

Quando olhamos para os adultos de apenas uma espécie, essas relações também se mantém: indivíduos maiores têm mais músculos e ganham mais lutas. Será que elas se mantêm quando olhamos para mais de uma espécie? Será que espécies que treinam mais possuem músculos maiores do que espécies que treinam menos?

Para responder a essas perguntas, fica mais fácil se usarmos um exemplo. Para isso, vamos olhar agora para caranguejos. Sim, caranguejos! Algumas espécies, como as do gênero Aegla, variam em sua agressividade. Assim, podemos dizer que elas variam também na quantidade de treino para lutas. Isso porque os machos de algumas dessas espécies lutam frequentemente com outros machos. Eles usam suas garras para segurar o rival e apertá-lo. Quem aperta mais forte tende a vencer a briga.

Tudo bem, mas, por que esses caranguejos machos lutam entre si? Por fêmeas, claro. Algumas espécies até usam estratégias alternativas, entretanto outras têm que lutar para se acasalar. Quando, então, a luta está relacionada ao acasalamento, podemos esperar que espécies mais brigonas dependam mais dos músculos para gerar filhotes. Assim, caranguejos mais musculosos se dariam melhor nas lutas e passariam mais genes para frente. Se isso se repetir por um longo tempo, a evolução tenderia a favorecer um aumento na musculatura das garras.

Realizamos um experimento cujos resultados demonstram justamente isso: espécies que dependem mais de lutas para se acasalar possuem garras mais fortes. Além dos músculos, essas garras possuem um formato que aumenta o desempenho delas ao agarrar rivais! Ou seja, a relação entre luta e acasalamento pode não apenas aumentar o tamanho dos músculos, mas até mesmo modificar a forma das garras.

Isso nos dá muito o que pensar! Por exemplo, o quanto da forma e tamanho dos punhos humanos pode ser explicada por pressões de acasalamento que ocorreram no nosso passado evolutivo? 

*Professor visitante do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) — Campus Diadema

As opiniões expressas neste artigo não representam a posição oficial da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

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