Uma nova pesquisa, publicada em 26 de agosto deste ano na revista científica Science Advances, revelou um interesse maior de estudantes da região da Amazônia na biodiversidade local. O trabalho contou com o docente Nelio Bizzo, do Campus Diadema da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), no papel de autor correspondente, e foi assinado por Fernanda Franzolin, da Universidade Federal do ABC (UFABC), e Paulo S. Garcia, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS).
O estudo, intitulado Amazon conservation and students' interests for biodiversity: The need to boost science education in Brazil (Preservação da Amazônia e os interesses de estudantes na biodiversidade: A necessidade de estimular a educação científica no Brasil, em tradução livre), usou dados coletados no país todo em três períodos: 2007, de 2010 a 2011 e 2014.
Por meio de questionários fornecidos a estudantes no início do ensino médio, os pesquisadores conseguiram identificar distinções relevantes entre as regiões do Brasil. “Estudantes da região da Amazônia estão muito mais interessados em estudar a diversidade de animais e plantas do que os do Sudeste, que vivem em municípios com os maiores Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) do país, mas têm os menores níveis de interesse no assunto comparados com o resto do Brasil. Foi uma grande surpresa para nós”, destacam os pesquisadores.
A pesquisa mostrou que, mesmo com recursos educacionais mais reduzidos, mais da metade (50,4%) dos estudantes da região amazônica declarou ter o desejo de estudar a biodiversidade local. No Nordeste, essa taxa também é elevado, chegando a 46.9% dos respondentes dos questionários. Já na região Sudeste, apenas 33,1% dos alunos se disseram interessados em estudar o tema.
Buscando explicações para esse fenômeno, os pesquisadores fizeram um cruzamento de dois mapas: a densidade das populações indígenas e o local das escolas em que a pesquisa foi feita. A comparação sugeriu que a proximidade dos povos originários contribui para a difusão de conhecimentos sobre a biodiversidade local.
Essa presença também foi identificada na questão dos mitos indígenas, como a criatura conhecida como Mapinguari, que está fortemente presente na cultura amazônica, tanto nas áreas urbanas quanto nas rurais. “É difícil encontrar algo semelhante no Sudeste do Brasil, mesmo no oeste de Santa Catarina, onde há uma relevante presença de povos indígenas, especialmente das culturas Guarani e Kaingang”, revela o estudo.
Os pesquisadores reforçam a necessidade de incentivar os estudos sobre a biodiversidade e o meio ambiente, ressaltando que o apoio às questões ambientais depende de um conhecimento robusto sobre a complexidade do tema. Essa é uma das razões para continuar as avaliações dos interesses dos estudantes do Brasil na biodiversidade e continuar aprimorando os materiais didáticos e propostas de aprendizagem, defendem os estudiosos.
Esse é o primeiro produto acadêmico gerado no âmbito de um projeto de pesquisa fundado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), através do Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade, conhecido como BIOTA.