Fungo compromete a saúde de gatos e de seus donos
A doença se concentra em animais da periferia e de comunidades carentes, dificultando o tratamento
Por DCI
Publicado em 13 March 2017 15:48 | Última modificação em 22 April 2024 17:07
Um estudo publicado na revista científica PLOS Pathogens descreveu a esporotricose, doença causada por um fungo que vive naturalmente no solo, o Sporothrix sp, e que atinge gatos. No Brasil, Sporothrix brasiliensis é o agente etiológico mais prevalente, embora S. schenckii também seja encontrado em menor proporção. Por meio de unhadas, os gatos infectados transmitem o fungo a outros felinos, a cães e também a seus donos.
O aumento no número de casos da doença se alastra pelo Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, causando lesões sérias e potencialmente fatais quando não tratadas em tempo hábil. Desde julho de 2013, devido ao status hiperendêmico da esporotricose no Rio de Janeiro, a doença tornou-se de notificação obrigatória no estado.
As lesões em humanos e cães geralmente não são tão severas como nos felinos e raramente impõem risco à vida. Mesmo em gatos, que são mais afetados, a doença tem cura, mas o tratamento é caro e demorado. E a doença se concentra em animais da periferia e de comunidades carentes, o que dificulta o tratamento devido principalmente ao custo.
O biólogo Anderson Rodrigues, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), um dos autores do artigo, estuda a genômica das muitas espécies do gênero Sporothrix (são 51, sendo cinco de relevância médica) para comparar seus DNAs com o do S. brasiliensis, o agente causador da doença emergente no Brasil e de longe a espécie mais virulenta.
Em pesquisa em seu pós-doutorado com bolsa da Fapesp, Rodrigues descreveu em 2016 uma nova espécie, Sporothrix chilensis, isolada a partir do diagnóstico de um caso humano em Viña del Mar, no Chile.
Não se sabe como o Sporothrix brasiliensis começou a infectar os gatos. Até o aumento no número de casos no Rio de Janeiro, a esporotricose era considerada uma doença muito esporádica e ocupacional, lembra Rodrigues.
“A doença tradicionalmente acometia uma a duas pessoas ao ano. Mas em 1998 o total de casos no Rio de Janeiro começou a crescer”, disse o professor Zoilo Pires de Camargo, chefe do Laboratório de Micologia Médica e Molecular da Unifesp e coordenador do Projeto Temático "Biologia Molecular e Proteômica de fungos de interesse médico: Paracoccidioides brasiliensis e Sporothrix schenckii" , conduzido de 2010 a 2016 com apoio da FAPESP, orientador de Rodrigues no seu pós-doutorado.
No Brasil, além da falta de capacidade de fazer diagnósticos em larga escala nas esferas municipal, estadual e nacional, falta acesso a remédios para tratar a doença.
O medicamento de referência é o antifúngico itraconazol, de preço elevado. A cada mês e ao longo de seis meses são necessárias no mínimo quatro caixas: duas para tratar o animal e outras duas para o tutor, caso este esteja doente. Como todo proprietário de gatos sabe, por mais queridos que sejam seus bichanos eles arranham, principalmente em situação de estresse como na hora de dar remédio.
Enquanto não estiver livre do fungo, o gato pode continuar transmitindo o fungo. Após o primeiro ou o segundo mês de tratamento, geralmente as lesões desaparecem, mas o fungo, não. “A interrupção do tratamento antes de seis meses pode levar ao ressurgimento das lesões”, disse Camargo.
O fungo presente nas lesões destrói progressivamente a epiderme, a derme, o colágeno, os músculos e até ossos. Além disso, o fungo pode acometer os órgãos internos, agravando o quadro clínico.
O texto completo está disponível no site da Agência Fapesp.