Um estudo do Departamento de Psicobiologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo analisou o rápido envelhecimento da população e, consequentemente, o agravante de comportamentos como o consumo de álcool por esta população. Fruto de uma tese de doutorado, a pesquisa e seus desdobramentos foram recentemente publicados nos periódicos científicos Substance Use & Misuse e BMJ Open.
De acordo com Tassiane de Paula, primeira autora do estudo, “é fundamental entender essa problemática para propor estratégias para redução do consumo de álcool entre os idosos”. O objetivo principal da pesquisa, portanto, foi estimar os padrões de consumo de álcool da população idosa no país e na atenção primária, e propor uma intervenção breve e de baixo custo para reduzir esse consumo.
Estimativas
Para estimar a prevalência dos padrões de consumo de álcool da população geral idosa foi realizada uma análise dos dados da linha de base do Estudo Longitudinal de Saúde dos Idosos Brasileiros - ELSI Brasil, com uma amostra de 5.432 brasileiros acima de 60 anos. Já para avaliar os padrões de consumo de álcool em idosos da atenção primária, foram utilizados dados da triagem inicial do ensaio clínico realizado em sete Unidades Básicas de Saúde (UBS) com 503 participantes.
Em ambos os estudos foram identificados fatores sociodemográficos, comportamentais e de condições de saúde associados aos diferentes padrões de consumo de álcool.
Resultados
Aproximadamente, um em cada quatro brasileiros (23,7%) com 60 anos ou mais consome álcool atualmente, sendo que 6,7% (aproximadamente 2 milhões) relatam ter feito consumo de várias doses em uma ocasião no último mês e 3,8% (mais de um milhão de brasileiros acima de 60 anos) consumiram em uma semana típica quantidades que podem colocar a sua saúde em risco. O consumo de álcool foi mais comum na região Sudeste e na atenção primária comparada à população idosa geral.
Em ambas as populações (geral e na atenção primária), os homens relataram maior consumo de álcool (quantidade e binge), bem como os mais jovens e aqueles com maior escolaridade.
Intervenção
Por fim, foi desenvolvida uma proposta de Intervenção Breve para Idosos (IBI) e elaborado um protocolo para testar a efetividade desta intervenção na atenção primária, administrada por agentes comunitários de saúde, com apenas 6% de recusa entre os primeiros 80 participantes recrutados .
“As evidências sugerem que intervenções breves são eficazes na redução do consumo de álcool entre adultos mais velhos. No entanto, a eficácia dessas intervenções quando realizadas por agentes comunitários de saúde em um ambiente de atenção primária à saúde é desconhecida. Até onde sabemos, este será o primeiro ensaio clínico randomizado a examinar isso”, escreveram as pesquisadoras em artigo.
Duzentos e quarenta e dois indivíduos considerados bebedores de risco serão recrutados e alocados aleatoriamente para receber ou o atendimento usual (lista de espera) ou atendimento usual mais uma intervenção breve realizada por agentes comunitários de saúde treinados em Unidades Básicas de Saúde (UBS) que fazem parte do Sistema Único de Saúde (SUS).
Conclusões
De acordo com o estudo, há uma proporção alta dos idosos que consomem álcool em quantidades que podem trazer danos à saúde.
“Considerando que se trata de uma população que geralmente apresenta problemas de saúde e faz uso de medicação, esta faixa etária merece atenção. A administração inicial da intervenção nas unidades básicas de saúde parece ser factível e bem aceita pelos participantes, mas necessita ser testada de forma completa em um ensaio clínico para avaliar a sua efetividade assim como a sua relação custo-efetividade no futuro”, conclui a pesquisa.