Um estudo realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) faz um alerta sobre a falta de preocupação com a segurança da água usada na produção da alimentação escolar, não só no Brasil, como também em vários países pelo mundo. Alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – Agenda 2030 da Organização Nações Unidas (ONU), com a atual Década da Água (2018-2028) e com o Dia Mundial da Água, celebrado no último dia 22 de março, o estudo teve por objetivo analisar a abordagem da segurança dos alimentos e da água em documentos sobre as políticas e os programas de alimentação escolar em países das sete regiões mundiais, segundo o Banco Mundial.
A pesquisa revelou que, de 218 países, 168 (77,1%) apresentam alimentação escolar, com menor presença em países de baixa renda onde a necessidade de ajuda, governamental ou não, é maior. Abordaram o consumo de água 57,2% países. A água para higiene foi citada por 25% dos países, enquanto apenas 14,8% abordaram a água para o preparo de alimentos; 13,6% abordaram o padrão de identidade e qualidade dos alimentos (PIQ); e sobre a água de irrigação em abordagens relacionadas à agricultura local ou familiar e a ferramenta pedagógica, horta escolar, foi verificada em 11,7% dos países.
“Destaca-se, ainda, o preocupante dado de que 25% do total de países com alimentação escolar não apresentaram nenhum dado sobre a segurança da água e dos alimentos. Vale lembrar que desde 1977, a ONU declara o acesso à água potável como direito humano essencial”, afirma a professora Elke Stedefeldt, do programa de pós-graduação de nutrição da Unifesp, que junto com Raísa Moreira Dardaque Mucinhato e Andrea Polo Galante foram as responsáveis pela pesquisa.
Para a professora, um dos grandes problemas é a falta de maior entendimento sobre a relação entre água, nutrição e alimentação escolar. “Essa ligação é maior do que se imagina. Diante disso, é importante ter em mente que a segurança da água e a segurança dos alimentos contribuem para a garantia da segurança alimentar e nutricional. O termo segurança refere-se a não representar um risco à saúde humana. Isso é essencial, já que estamos falando de alimentação para aproximadamente, 368 milhões de escolares no mundo.”
A pesquisadora ressalta que, no estudo, as abordagens relacionadas à água foram variadas, mas em sua maioria ela é apenas adjetivada. São utilizados, por exemplo, termos como potável, segura e própria ao consumo humano. “Contudo, foi possível observar que nos documentos há uma lacuna entre esses conceitos e as formas como a escola realmente tem acesso à água, bem como possíveis alternativas para obtê-las de forma adequada. Para minimizar essa defasagem, o primeiro e fundamental passo é assegurar os direitos das crianças e garantir a Segurança Alimentar e Nutricional. Para isso, é urgente haver maior diálogo e integração entre todos os atores sociais envolvidos na alimentação escolar”, conclui a professora Elke.