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Componente da maconha interrompe efeito do álcool

Estudo pré-clínico aponta que o THC pode eliminar resposta comportamental provocada pelo uso repetido de álcool

Um estudo realizado pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) identificou que o Tetrahidrocanabinol (THC), componente responsável por provocar os efeitos euforizantes da maconha, inibiu a expressão de um comportamento relacionado ao consumo de álcool. Publicado na revista Alcohol, o artigo é um recorte da tese de doutorado de Renato Filev, do Laboratório de Neurobiologia do Departamento de Fisiologia da instituição.

Durante a pesquisa, 84 camundongos foram utilizados, sendo que 40 foram submetidos a exposição diária ao álcool em concentração de 2,5g/kg, o que aumentou a atividade locomotora, enquanto outros 44 receberam apenas solução salina. Após 12 dias de administração das soluções, os animais expostos ao álcool foram tratados com os seguintes componentes e concentrações: Canabidiol (CBD) à 2,5mg/kg, Tetrahidrocanabinol (THC) à 2,5mg/kg, CBD + THC, na razão 1/1, e “veículo” (solução utilizada para diluição dos componentes da maconha) por 4 dias, sem acesso ao álcool durante este período. O grupo controle não teve contato com canabinoides ao longo do processo.

Um dia depois da administração da última dose de canabinoides, todos os animais, inclusive os do grupo controle, receberam administração de álcool a 2,0 g / kg, visando avaliar a expressão da sensibilização locomotora. Os ratos tratados exclusivamente com THC ou com a associação CBD + THC apresentaram menor atividade locomotora na expressão, em comparação com o grupo que recebeu somente CBD ou “veículo”. Os grupos tratados com THC apresentaram índices de sensibilização equivalentes ao controle. Nenhum efeito foi observado com o tratamento feito somente com CBD.

De acordo com Filev, os resultados apontam que o uso do THC pode ser um aliado no tratamento contra o consumo do álcool. “Nota-se que a sensibilização é duradoura e permanece mesmo após retirar o contato com o álcool. Este efeito pode ser considerado um dos responsáveis pela repetição do consumo, sendo um comportamento relevante, sobretudo para aqueles que fazem uso problemático”, explica. O pesquisador relata ainda que os achados apontam para a necessidade de investigar as propriedades dos canabinoides em usuários que apresentam problemas em decorrência do consumo dessas substâncias.

Confirmação de resultados preliminares

Estes resultados corroboram com uma hipótese levantada pelo próprio grupo do Laboratório de Neurobiologia da EPM/Unifesp em artigo produzido em 2013. Na ocasião, os pesquisadores identificaram que houve alteração na produção de receptores canabinoides durante a abstinência de álcool em roedores, indicando que o sistema endocanabinoide, presente em todos os mamíferos e responsável pela regulação de vários neurotransmissores, tais como a serotonina e a dopamina, poderia ser um importante alvo terapêutico para o alcoolismo.

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