Uma pesquisa internacional com participação do docente Marcelo Demarzo do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) analisou pela primeira vez, de maneira científica, os efeitos indesejáveis associados à prática de meditação. O estudo foi publicado na renomada revista científica Plos One em setembro de 2017.
Este é o primeiro estudo multicultural em nível internacional sobre os efeitos adversos ou não esperados da meditação. Ele concluiu que, dos 350 praticantes de meditação avaliados, 87 deles (25,5%) tiveram algum efeito indesejável, sendo que a maioria foi leve ou transitório e não levou à interrupção da meditação ou à necessidade de assistência médica. Essa pesquisa abre o caminho para que se aprenda mais sobre a aplicação da meditação em larga escala e de maneira correta para as pessoas interessadas, maximizando seus potenciais benefícios à saúde.
A incidência desses efeitos negativos, de acordo com a pesquisa, foi mais comum na prática individual do que na prática grupal. Os resultados do estudo também apontam que alguns tipos de meditação podem ter mais influência na prevalência de efeitos indesejados. Assim, de acordo com os dados coletados, a atenção focada ou concentrada está associada a mais efeitos indesejados, enquanto as práticas de conscientização corporal que se relacionam com saúde psicológica e médica estão associadas a menos efeitos negativos. Quanto à categorização dos efeitos, as reações mais frequentes foram os sintomas de ansiedade (13,7%).
A equipe de pesquisa foi formada por Marcelo Demarzo, professor da Universidade Federal de São Paulo, e sua aluna Patrícia Parra (pós-doutoranda); Ausiàs Cebolla, professor da Faculdade de Psicologia da Universidade de Valencia (Espanha); Javier Garcia-Campayo, do Hospital Universitário Miguel Servet de Zaragoza (Espanha); e Joaquim Soler, do Hospital de Santa Creu e Sant Pau de Barcelona (Espanha).
O estudo
A maioria dos praticantes eram mulheres (68,4%), e o maior número de pessoas veio da Espanha (42,9%), seguido do México (10,1%) e do Brasil (6,5%); 48,5% das pessoas que participaram da pesquisa eram de nível universitário de escolaridade. Quanto à frequência das práticas de meditação avaliadas na pesquisa, as práticas informais (levar a ideia de mindfulness para atividades cotidianas) foram as mais frequentes (46,8%), seguidas de atenção concentrada (30%), enquanto as práticas de compaixão eram as menos praticadas. Por outro lado, 16,6% (52) dos participantes apresentaram sintomas depressivos.