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Consumo de alimentos ultraprocessados está associado a milhares de mortes prematuras em oito países

Pesquisa coordenada pela Unifesp mostra que reduzir o consumo desses produtos poderia evitar até 14% das mortes prematuras

Imagem mostra diversos alimentos ultraprocessados, como hambúrguer, pipoca, batata frita e donuts

Um estudo internacional inédito, com coordenação de Leandro Rezende, docente do Departamento de Medicina Preventiva e do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo, revelou que o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados está associado a milhares de mortes prematuras (entre 30 e 69 anos) por causas evitáveis em oito países de diferentes níveis de desenvolvimento.

A pesquisa, publicada na American Journal of Preventive Medicine, é a primeira a estimar o impacto da alimentação baseada em ultraprocessados na mortalidade geral, comparando países com níveis diversos de consumo desse tipo de produto.

Os alimentos ultraprocessados - como refrigerantes, salgadinhos, embutidos, biscoitos recheados e refeições prontas - representam uma fatia crescente da dieta mundial. Caracterizam-se por serem formulações industriais altamente palatáveis, com pouca ou nenhuma presença de ingredientes in natura, alto teor calórico, açúcares, gorduras e aditivos artificiais. Segundo o artigo, esses produtos já correspondem a mais da metade das calorias diárias consumidas em países como Estados Unidos e Reino Unido.

Utilizando dados de 239 mil pessoas provenientes de estudos de corte prospectivos e pesquisas nacionais de alimentação, os(as) pesquisadores(as) constataram que cada aumento de 10% na participação de ultraprocessados na dieta está associado a um incremento de 3% no risco de mortalidade por todas as causas. Com base nessa relação, o grupo calculou a fração de mortes que poderia ser evitada com a redução do consumo de ultraprocessados.

Os resultados mostram que os impactos variam conforme o país. Na Colômbia, país com menor consumo de ultraprocessados (15% do total de calorias), estima-se que 4% das mortes prematuras poderiam ser evitadas. Já nos Estados Unidos e Reino Unido, onde o consumo supera 50% das calorias diárias, o estudo aponta para uma proporção de 14% de mortes prematuras atribuíveis.

Desigualdade alimentar e risco acumulado

Para o professor Leandro Rezende, um dos autores da pesquisa, os resultados reforçam a urgência de repensar os sistemas alimentares globais. “A base da alimentação deve ser composta por alimentos frescos ou minimamente processados, como aqueles que encontramos nas feiras ou preparamos em casa. Quando a maior parte da dieta é composta por ultraprocessados, acumulamos riscos de doenças e, agora sabemos, também de morte precoce”.

Ele acrescenta que o estudo amplia a visão tradicional focada em nutrientes isolados, como açúcares ou gorduras. “Nosso estudo leva em conta padrões alimentares e o grau de processamento dos alimentos, o que permite capturar de forma mais abrangente os efeitos da dieta na saúde da população”.

Políticas públicas e recomendações

Os(As) autores(as) defendem que a redução do consumo de ultraprocessados deve ser tratada como uma prioridade de saúde pública e incorporada às diretrizes alimentares nacionais. Entre as medidas sugeridas, estão:

- Incentivos ao consumo de alimentos in natura;
- Taxação de ultraprocessados e bebidas adoçadas;
- Rotulagem nutricional clara;
- Regulação da publicidade, especialmente voltada ao público infantil;
- Promoção de ambientes alimentares saudáveis em escolas e locais de trabalho.

A pesquisa também destaca o papel da educação e da soberania alimentar, especialmente em países de baixa e média renda, onde há uma transição acelerada de dietas tradicionais para padrões alimentares baseados em produtos ultraprocessados.

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