Releases

logo_unifesp

Estudo da Unifesp revela qualidade nutricional alarmante de alimentos direcionados a crianças no Brasil

A qualidade nutricional dos alimentos despenca à medida que as estratégias de marketing aumentam, transformando diversão em armadilhas coloridas e açucaradas para as crianças

A imagem mostra uma criança sentada à mesa, pegando um pedaço de batata frita de um prato. O prato contém batatas fritas, nuggets e um molho rosado em um recipiente. Ao fundo, há um ambiente desfocado, indicando um possível restaurante ou lanchonete. À direita do prato, há um copo com suco de laranja. A criança está vestida com uma blusa clara e tem cabelo volumoso e encaracolado. A cena sugere um momento de refeição descontraído.   Legenda no canto inferior esquerdo: "Imagem: Freepik".

Em um estudo conduzido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), pesquisadores analisaram a qualidade nutricional de alimentos e bebidas que utilizam estratégias de marketing direcionadas a crianças. Publicado na revista Food Research International, o estudo revela que mais de 54% dos produtos analisados apresentaram altos níveis de açúcar e gordura, evidenciando a preocupação com a saúde infantil em um contexto de crescente obesidade. A pesquisa foi liderada por Veridiana Vera de Rosso, professora do Instituto de Saúde e Sociedade da Universidade Federal de São Paulo (ISS/UNIFESP) - Campus Baixada Santista e contou com a colaboração de outros especialistas da instituição.

A equipe da Unifesp examinou 8.942 produtos disponíveis em supermercados brasileiros entre fevereiro de 2021 e setembro de 2023, identificando que 10% deles utilizavam algum tipo de marketing voltado para crianças. Entre as metodologias aplicadas, destacam-se o Nutri-Score, que avalia a qualidade nutricional dos alimentos com base em um sistema de pontuação, a classificação NOVA, que categoriza alimentos de acordo com o grau de processamento, e o Perfil Nutricional da ANVISA (RDC 429/2020 - Lupa), que considera parâmetros como calorias, gorduras, açúcares e sódio.

Os resultados indicaram que produtos com duas ou mais estratégias de marketing direcionadas a crianças apresentaram maiores teores de energia, carboidratos e açúcares, enquanto a maioria dos produtos não possuía alegações nutricionais. Os autores enfatizam que a utilização de marketing direcionado a crianças em produtos de baixa qualidade nutricional é uma questão crítica que demanda atenção regulatória urgente.

Além disso, a pesquisa destaca que a presença de personagens e mascotes nos rótulos é uma tática comum, presente em 76% dos produtos analisados utilizando esses elementos. Essas estratégias são reconhecidas por influenciar significativamente as escolhas alimentares das crianças.

Resultados indicaram ainda que 87% dos produtos analisados eram ultraprocessados, apresentando uma qualidade nutricional insatisfatória. O NPM Brasil mostrou que a maioria dos alimentos avaliados continha altos níveis de açúcares, gorduras saturadas e sódio, enquanto apresentava baixos teores de proteínas e fibras. Essa combinação não apenas compromete a saúde das crianças, mas também destaca a necessidade urgente de regulamentações mais rigorosas sobre a rotulagem e comercialização de produtos alimentícios voltados para o público infantil. Os NCS são ferramentas essenciais para ajudar os consumidores a fazer escolhas alimentares informadas, mas a variação nas classificações entre os sistemas evidencia a necessidade de uma padronização que proteja a saúde das crianças.

O estudo também abordou a questão do uso de edulcorantes e corantes em alimentos direcionados a crianças. A pesquisa revelou que quase 45% dos produtos analisados continham corantes artificiais, com os mais prevalentes sendo o Allura Red AC e o Brilliant Blue FCF. Esses corantes são frequentemente utilizados para tornar os produtos mais atraentes para o público infantil, mas sua segurança e impacto na saúde a longo prazo, especialmente em crianças, são temas de debate. Além disso, a utilização de edulcorantes artificiais foi identificada em uma pequena fração dos produtos, com apenas 6,77% da amostra contendo esses aditivos. Entre os edulcorantes, o acesulfame de potássio e o aspartame foram os mais comuns. A pesquisa destaca a necessidade de mais estudos sobre os efeitos a longo prazo do consumo de edulcorantes em crianças, uma vez que as diretrizes atuais recomendam cautela na sua utilização, especialmente em faixas etárias mais jovens.

O estudo reforçou a importância da formulação de políticas públicas e a regulação da indústria alimentícia, ressaltando que "é fundamental estabelecer diretrizes que limitem o marketing de alimentos não saudáveis para crianças, garantindo que as opções disponíveis no mercado sejam mais nutritivas e seguras".

 

COMPARTILHE