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Estudo da Unifesp identifica 51 mutações relacionadas à esclerose lateral amiotrófica e avança no diagnóstico da doença

Sequenciamento genético revela mutações mitocondriais associadas à ELA, oferecendo novos caminhos para o diagnóstico e tratamento da doença

A imagem mostra um close da mão de uma pessoa segurando o volante de uma cadeira de rodas. A pessoa parece estar impulsionando manualmente a cadeira de rodas, com parte do braço visível. A luz natural sugere que o ambiente pode ser interno, perto de uma janela. A imagem transmite mobilidade e independência, com foco no ato de movimento.

Um estudo pioneiro conduzido pelo professor Marcelo Briones, da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo, resultou na identificação de 51 mutações genéticas associadas à Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). A pesquisa oferece uma nova perspectiva para o diagnóstico dessa doença neurodegenerativa que afeta milhares de pessoas no Brasil e no mundo. O trabalho contou também com a colaboração de pesquisadores(as) dos Estados Unidos, especialmente do Centro de Medicina Personalizada da Penn State, liderado pelo professor James Broach.

A ELA é uma doença rara, com prevalência estimada de 0,9 a 1,5 casos por 100.000 habitantes no Brasil. Isso representa cerca de 2.000 pacientes no país, segundo estudos epidemiológicos nacionais. Apesar de ser uma doença amplamente conhecida por seus impactos devastadores no sistema nervoso, resultando na perda progressiva de funções motoras, ainda há muito a ser descoberto sobre suas causas e mecanismos. Nesse contexto, o estudo liderado pela Unifesp representa um importante avanço na busca de respostas.

A pesquisa teve início em 2015, quando o professor Briones sequenciou pessoalmente as amostras iniciais em um projeto piloto. Com resultados promissores, o trabalho avançou e, a partir de 2018, recebeu amostras do New York Genome Center (NYGC), enviadas por James Broach, da Penn State. A análise dessas amostras foi conduzida entre 2020 e 2022, com a participação de João Campos, doutorando da Unifesp. O estudo foi parte de sua tese de doutorado e passou por diversas revisões até sua publicação, em 2024.

A principal contribuição deste trabalho foi a identificação de 51 mutações genéticas relacionadas à ELA, sendo a maioria delas mitocondriais. Essas mutações são particularmente importantes porque, em todos os casos de ELA, há uma disfunção mitocondrial no cérebro. Essa relação pode ser fundamental para esclarecer as causas moleculares da doença e abrir novas frentes de pesquisa para seu tratamento.

"Essas mutações mitocondriais são importantes porque podem explicar o motivo pelo qual a maioria dos casos de ELA não segue um padrão mendeliano de herança genética. Isso é consistente com a disfunção mitocondrial observada no desenvolvimento da doença", explica Marcelo Briones.

Relevância para o diagnóstico e tratamento da ELA

Um dos principais desafios enfrentados pelos(as) médicos(as) e cientistas no combate à ELA é a dificuldade no diagnóstico precoce da doença. Muitas vezes, os sintomas iniciais são confundidos com outras condições neurológicas, atrasando o início de tratamentos que podem retardar o avanço da doença. A descoberta dessas mutações pode permitir a criação de novos exames genéticos, facilitando um diagnóstico mais preciso e rápido.

Além disso, o estudo destaca o potencial das mutações mitocondriais como alvos para futuras terapias. "O envolvimento das mitocôndrias na ELA pode abrir caminho para o desenvolvimento de tratamentos que visem diretamente a correção ou compensação dessas disfunções. Isso é algo que esperamos que os estudos futuros possam explorar", comenta Briones.

A pesquisa representa um avanço significativo no entendimento dos mecanismos moleculares por trás da ELA. Ao trazer à tona novas informações sobre as mutações genéticas associadas à doença, o estudo abre portas para o desenvolvimento de terapias mais eficazes e personalizadas, baseadas nas características genéticas individuais dos(as) pacientes.

Colaboração internacional

A parceria com pesquisadores(as) dos Estados Unidos foi essencial para o sucesso do projeto. O professor James Broach, do Centro de Medicina Personalizada da Penn State, desempenhou um papel fundamental ao enviar amostras do NYGC para o Brasil, permitindo que a equipe da Unifesp conduzisse suas análises com uma diversidade maior de dados genéticos. Essa parceria internacional ratifica a importância da cooperação científica entre países para o avanço no tratamento de doenças raras como a ELA.

O estudo, que contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e outras entidades de pesquisa, reforça o papel da Unifesp como uma das principais instituições de ciência e tecnologia no Brasil. A capacidade da universidade de liderar projetos de impacto global como este comprova a dimensão de sua contribuição para a melhoria da qualidade de vida de pacientes com doenças neurodegenerativas.

A colaboração entre a Unifesp e instituições internacionais confirma a importância do trabalho em equipe e da cooperação global na luta contra doenças complexas. Com esses avanços, há uma esperança renovada para os(as) pacientes que enfrentam a ELA, trazendo um passo a mais em direção a tratamentos mais eficazes e personalizados.

O artigo científico está disponível neste link.

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