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O crédito e o descrédito dos rankings universitários

Durante muito tempo, obter um diploma de ensino superior era algo tão raro que a sua mera posse, no Brasil, se tornava garantia não apenas de um bom emprego, como de uma trajetória de sucesso no mercado de trabalho. O ensino superior continua abrindo portas, porém, a massificação do sistema trouxe à tona um cenário complexo para quem deseja comparar a qualidade das diferentes universidades. Os indicadores da qualidade do ensino superior tornaram-se, assim, ferramentas úteis para orientar a tomada de decisão, por parte tanto do estudante no momento de sua escolha em relação a que faculdade cursar, quanto do mercado para nortear a contratação de jovens profissionais, e mesmo do governo para embasar a alocação de recursos orçamentários do ensino superior. Surgiu, a partir desse quadro, uma profusão de indicadores de desempenho “independentes”, os chamados rankings universitários. Se parece mais do que justificada a necessidade de classificar as universidades, colocando constantemente novos desafios para os seus projetos pedagógicos, os rankings precisam também ser avaliados, pois estão longe de revelar ao público uma verdade absoluta. Recentemente, o ranking universitário promovido pelo jornal Folha de S. Paulo (RUF) atribuiu uma queda significativa na classificação geral obtida pela Unifesp. Apesar de a empresa não divulgar a metodologia, identificamos a origem do fenômeno em uma variável subjetiva que compõe o indicador: a reputação das universidades no mercado de trabalho. Notamos que, na composição do RUF, a ponderação da variável “mercado” é superestimada, o que acaba produzindo inevitáveis distorções. Assim, ganha um grande peso, na pesquisa, a opinião de gerentes de recursos humanos de empresas a respeito de sua preferência por egressos de diferentes universidades. Ora, há aí um elevado grau de subjetividade. A preferência não necessariamente corresponde ao grau de excelência de ensino e pesquisa de instituições de ensino superior. Não raro, infelizmente, ocorre o contrário. São justamente universidades privadas, com fins lucrativos, e sem qualquer compromisso com o progresso científico e a ética na formação de seus alunos, que aparecem no top of mind dos recrutadores de pessoal, influenciados pelos milhões gastos em marketing por empresas do ensino. Certamente outro teria sido o resultado se, em vez de opinativo, o indicador buscasse auferir fatos, como, por exemplo, a taxa de empregabilidade do egresso da Unifesp - elevada inclusive para os seus novos cursos. Além disso, muitos dos formandos da instituição buscam o serviço público, cujas empresas não estão representadas com o peso devido na metodologia adotada pelo ranking. Incoerências metodológicas do RUF, como essas que identificamos, vêm gerando críticas há tempos por estudiosos do sistema de ensino superior. Espera-se que essas críticas sirvam para que o ranking cumpra plenamente a sua função essencial de balizar as decisões de estudantes e empresas, ainda mais por se tratar de uma classificação realizada e divulgada por veículo de mídia tão importante. Como resultado dessas reflexões, solicitamos formalmente aos responsáveis pelo RUF esclarecimentos sobre a metodologia empregada. Ao mesmo tempo, não somos indiferentes à qualidade da imagem que projetamos na sociedade, e por isso pretendemos promover ações no sentido de aprimorá-la, tanto junto à imprensa, como ao mercado de trabalho e à opinião pública em geral. Soraya Smaili     Sumário do número 12