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Estudantes criam Memorial Digital do Refugiado

Projeto visa facilitar a integração na sociedade brasileira José Luiz Guerra Um grupo de alunos da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas do Campus Guarulhos da Unifesp (EFLCH/Unifesp) criou o Memorial Digital do Refugiado (MemoRef), projeto que visa inserir refugiados na sociedade brasileira, por meio de aulas de português, intervenções culturais e registros escritos, fotográficos e audiovisuais produzidos com base nos trabalhos, além de integrar a comunidade acadêmica a um projeto cultural de cunho humanitário. A ideia surgiu a partir das reflexões da discente de Letras da EFLCH/Unifesp e coordenadora do projeto, Marina Reinoldes, que ministrava voluntariamente aulas na ONG Oásis Solidário, na mesquita do Pari. “Comecei a dar aula em maio e fiz uma publicação chamando outros estudantes da Unifesp para ajudarem. Como a procura foi grande, decidi tentar levar o projeto para a EFLCH/Unifesp e começamos a organizá-lo”, explica. Segundo ela, o formato do MemoRef foi pensado durante cerca de cinco meses. O MemoRef trabalha em três eixos: o primeiro, ministrando aulas gratuitas de português para os refugiados, usando o idioma como meio principal de inserção dos mesmos na sociedade; o segundo, promovendo ações culturais para promover a integralização dos refugiados com a comunidade acadêmica; e o terceiro, elaborando um banco de dados construído a partir das ações culturais, que poderá servir como fonte de dados para futuras pesquisas acadêmicas. O material didático, formulado pela equipe do MemoRef, traz lições que ensinam os alunos a usarem expressões cotidianas, conhecerem os nomes dos estados brasileiros e de objetos comuns. O grupo de ensino é atualmente formado por 11 membros, sendo uma coordenadora, uma vice-coordenadora, cinco organizadores e quatro monitores. As aulas tiveram início em 02 de setembro, contemplando 15 refugiados vindos da Nigéria, Camarões e Síria, todos encaminhados pela Cáritas Arquidiocesana de São Paulo. Além das aulas de português, que ensinam o básico para que os alunos possam se virar em situações cotidianas, os estrangeiros são estimulados a conhecer a cultura brasileira na prática e interagir não só presencialmente, como também à distância, utilizando redes sociais, além de ter contato com particularidades da cultura nacional, como caldo de cana, caipirinha e churrasco. Em uma das atividades extraclasse, os alunos participaram de uma apresentação da Bateria Malagueta, grupo instrumental da EFLCH/Unifesp, tendo a oportunidade de conhecer os nomes dos instrumentos e tocar junto com os ritmistas. Ingrid Albuquerque, vice-coordenadora do grupo, vê o trabalho não apenas como aulas de português, mas como uma ação de perspectiva humanitária e recíproca de ambos os lados. “Eles sentem a energia que nós passamos para eles e se sentem privilegiados quando veem que nós sabemos alguma música ou algum tópico de cultura deles”. Dentro da Unifesp, o projeto conta com o apoio do Laboratório Interdisciplinar de Formação de Educadores (Life), ambiente voltado à realização de práticas pedagógicas, da Cátedra Sérgio Vieira de Mello, que auxiliará na seleção de dados para o memorial, realizará algumas atividades específicas sobre refúgio e mediação com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e da biblioteca da Unifesp, que cederá espaço para a realização de uma exposição fotográfica que apresentará o olhar do refugiado sobre a comunidade em que vive. As coordenadoras citam os diferentes níveis de português como uma das dificuldades a serem enfrentadas no trabalho. “Alguns alunos estão com muitas dificuldades, pois só sabem o árabe e temos de dar uma atenção especial a eles. Em contraposição alguns querem entrar no ensino superior e estamos procurando atender essa necessidade”, diz Ingrid. Os alunos que têm mais dificuldades são acompanhados mais de perto por um dos monitores que dão o suporte aos professores. Possibilidade de expansão Quando redigido, o projeto do MemoRef previa o atendimento a um grupo de 15 refugiados em aulas que iriam de setembro a dezembro de 2015, com possibilidade de abertura de nova turma em 2016. No entanto, a aprovação do projeto no programa Pró-cultura da Unifesp e a visibilidade que a ação ganhou dentro e fora da universidade fizeram com que a organização sonhasse mais alto. “Escrevemos o projeto até dezembro porque estávamos com medo de pensar muito alto e não conseguirmos fazer o que estávamos propondo. No entanto, bateu aquele arrependimento, porque estamos vendo que é possível organizar e por isso vamos procurar outros meios de continuar o projeto”, explica Marina. Atualmente, a cidade de Guarulhos abriga 242 refugiados, 72 deles chegaram em 2015. A intenção do MemoRef é a de que, até o final de 2016, esses refugiados passem pelo curso, meta que Marina encara como um sonho. “Espero que nós consigamos atender a essa demanda, pois faz parte do papel da universidade. É algo que eles precisam e é uma forma de nós retribuirmos à comunidade todo o aprendizado que a gente tem dentro da universidade”, finaliza. A voz dos refugiados Luc Tadieu Kovam, de 45 anos, veio de Camarões e é um dos estudantes do MemoRef. Ele afirma que as aulas são boas, assim como os professores. Por ter o francês como idioma nativo, sente um pouco de dificuldade com o português. “Entender é fácil. Difícil é falar. Consigo fazer tudo sozinho e quando preciso de algo que não sei o nome, aponto”. Para ele, a evolução é nítida, pois quando chegou não sabia nenhuma palavra em português. “Como você vai se relacionar com uma pessoa sem falar a língua dela? Você tem que aprender”, diz. Já o nigeriano Ogurieti Marvin Tunde, de 30 anos, está achando fácil aprender o português e afirma que recebe muita ajuda dos professores. Assim como Luc, ele também já consegue pedir as coisas em português, mas acha o idioma difícil em comparação com o inglês, sua língua nativa. “O vocabulário do português é muito diferente e falar e escrever ainda é muito difícil”, completa.   Sumário do número 12