O momento atual apresenta enormes desafios em relação ao futuro das pesquisas e da ciência em nosso país. Chegamos ao final de 2017, mas ainda não temos certeza se e como o ano irá acabar. O debate e a participação da comunidade científica na política de financiamento da ciência foram extremamente significativos. Há muito não víamos os cientistas e estudantes tão mobilizados e empenhados em demonstrar à sociedade os efeitos dos cortes anunciados na dotação de verbas públicas destinadas à ciência, tecnologia e inovação (CT&I).
A proposta de orçamento apresentada pelo governo federal reduz as verbas para o setor a um valor equivalente a 2/3 do investido em 2011. Caso isso se confirme, o país estará diante de uma catástrofe de grandes proporções, com o comprometimento de atividades essenciais ao desenvolvimento, bem como do processo de crescimento da nação.
Nossos pesquisadores foram firmes e consistentes na defesa do sistema público de CT&I e souberam iniciar um processo de interlocução com parlamentares e a sociedade, por todos os meios possíveis, incluindo a mídia, para demonstrar a importância dessa área. Dados recentes apresentados ao Conselho Universitário da Unifesp (Consu) pelo professor Marcos Cintra, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), revelam que cada unidade da moeda investida em CT&I em determinado país gera de três a quatro unidades da mesma moeda em desenvolvimento econômico e social. Não se trata, portanto, de um “gasto”, mas sim de um investimento no futuro de qualquer nação. Por essa razão, muitos têm atuado para a tomada de consciência em torno da defesa desse patrimônio fundamental.
Dentre as entidades que mais se destacaram nessa atuação, nos últimos meses, estão as universidades públicas, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC). Entreteses traz, nesta edição, uma importante entrevista sobre o tema com o presidente da ABC, Luiz Davidovich. Apontando para o perigo de um retrocesso desastroso, Davidovich afirma que o país tem os meios e os recursos para apostar no crescimento. Mas é preciso que o governo federal tenha vontade política de fazê-lo. A Unifesp coloca-se ao lado do movimento em questão, que visa recompor os orçamentos para essa área tão estratégica.
Como demonstração de que é possível adotar o caminho do crescimento, Entreteses traz também uma ampla reportagem sobre o trabalho realizado pelo Departamento de Ciências do Mar, localizado no Campus Baixada Santista. Em 2011, a Unifesp tomou a iniciativa de expandir as pesquisas científicas na área, com a contratação de jovens doutores. Inicialmente, foram oferecidos um bacharelado e engenharias; posteriormente, abrimos programas de pós-graduação. Hoje, formamos profissionais que produzem conhecimento essencial não só para a conservação da costa da Baixada Santista, como também para a propriedade brasileira em três vertentes: social, ambiental e biológica.
Em 2017, apesar das dificuldades enfrentadas pelo país, nossos pesquisadores – de todas as áreas – têm o que celebrar, pois a Unifesp foi indicada, em diversos sistemas de avaliação, como uma das três melhores universidades brasileiras em pesquisa. Vamos continuar: nossa única escolha é atuar e avançar pela ciência e pelo futuro.
Pesquisa & Desenvolvimento • O mar é o limite
Edição 9 • dezembro 2017