Organizar a ordem de atracagem dos navios, de descarregamento e de saída de um dos portos mais importantes do país e que recebe a maior carga de carvão mineral vinda dos EUA e China para abastecer as siderúrgicas brasileiras, não é tarefa fácil. Ainda mais quando toda essa estratégia é traçada à mão e com base nos anos de experiência.
Para facilitar e otimizar esse processo no porto de Tubarão, em Vitória, no Espírito Santo, pesquisadores do Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT/Unifesp) – Campus São José dos Campos – e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram um sistema computacional capaz de fornecer dados para uma logística integrada, diminuindo o tempo de descarga dos navios, o custo energético e o impacto ambiental, já que se utiliza menos combustível e, consequentemente, a poluição é menor.
“O projeto é apenas uma amostra da contribuição que a universidade pode dar à sociedade para melhorar a competitividade e o comércio exterior do país”, afirma Luiz Leduíno de Salles Neto, diretor acadêmico do ICT-Unifesp, que coordena o projeto. De acordo com ele, com a modelagem matemática e a pesquisa operacional é possível melhorar a infraestrutura já existente nos portos brasileiros, principalmente em um momento de crise de energia e de água, como esta pela qual estamos atualmente passando no Brasil.
O projeto, que foi financiado pela empresa Vale e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por meio do Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (Pite), gerou uma dissertação de mestrado e a concessão de uma patente, esclarecendo-se, neste caso, que 25% da propriedade intelectual pertence à Unifesp, outros 25% à Unicamp e a metade restante (50%) à empresa financiadora. O Pite permite o estreitamento das relações entre as universidades e institutos de pesquisa brasileiros e empresas (nacionais e estrangeiras) para a realização de projetos de pesquisa cooperativos e cofinanciados.
Vista dos descarregadores de navios e do pátio de estocagem de carvão mineral no terminal de Praia Mole
Menos tempo, menos multas
Salles Neto explica que o sistema é capaz de agilizar todo o processo e pode ser aplicado em qualquer porto ou terminal que opere com navios graneleiros, principalmente em situações de “gargalo”, como acontece nesses locais.
O sistema é classificado como integrado porque organiza não somente a sequência dos navios que irão atracar, mas também em qual berço (setor do porto onde encostam e são amarradas as embarcações) cada um deles ficará, especificando quais e quantas máquinas descarregadoras (guindastes) serão utilizadas para cada navio, em quais esteiras o carvão será depositado para ser levado aos pátios de armazenamento e, finalmente, o tempo total de todo o processo e o horário de saída das embarcações do cais. “O desenvolvimento de uma logística integrada para o porto de Tubarão é totalmente estratégico, já que o país não possui reservas de carvão mineral – o segundo combustível fóssil mais utilizado na matriz energética mundial – e 70% do produto que abastece as siderúrgicas brasileiras entra por esse terminal”, explica o coordenador do projeto.
O benefício do processo em questão recai, segundo ele, principalmente sobre o custo para a empresa, já que os equipamentos são utilizados por menos tempo e o número de multas geradas pelo atraso no descarregamento diminui consideravelmente. “No caso do porto de Tubarão, como a Vale já possui uma programação mensal de navios que atracarão e suas respectivas cargas, o sistema calcula toda a operação com bastante antecedência.”
O próximo passo é aplicar a nova tecnologia no terminal de cargas gerais da Vale, no porto de Praia Mole, também no Espírito Santo, por onde se exportam grãos, principalmente de soja, e fertilizantes.
Dos pátios para o trem
Luiz Leduíno de Salles Neto, coordenador do projeto
Ainda de acordo com o docente responsável, a carga armazenada nos pátios, que seguirá para as siderúrgicas por caminhão ou trem, é outro problema sério que precisa ser resolvido. Com esse propósito, as pesquisas avançaram e um novo programa, que prevê, inclusive, um gasto menor de energia na operação, está sendo desenvolvido para ser incorporado ao sistema já patenteado. No entanto, a previsão é que o software esteja disponível para comercialização daqui a dois anos, quando a patente provavelmente estará liberada.
Outros sistemas de logística integrada, desta vez para navios que transportam contêineres, estão em estudo pela equipe de Salles Neto. “O setor portuário brasileiro é responsável por 95% do volume de nosso comércio exterior”, afirma. “Se mantida a taxa de crescimento dos últimos anos, os portos brasileiros terão que aumentar sua capacidade de atendimento em cerca de 40% até 2017, ou seja, o equivalente a um porto de Santos a cada três anos”.
Patente:
INSTITUTO NACIONAL DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL. Luiz Leduíno de Salles Neto, Bruno L. Honigmann Cereser, Antonio Carlos Moretti. Sistema para otimizar a relação entre custos de carregamento de navios e transporte de cargas em navios atracados. BR1020140157492, 25 jun. 2014.