Um levantamento socioeconômico e ambiental na cidade de Osasco, realizado por alunos de graduação da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios (EPPEN) da Unifesp – Campus Osasco, tem por objetivo apreender como os moradores que vivem no entorno de córregos enxergam a sua relação com as águas e com suas condições de vida. A pesquisa busca oferecer subsídios à criação de linhas de ensino, pesquisas, programas, ações e propostas de políticas públicas em uma perspectiva interdisciplinar, multidisciplinar e transdiciplinar nas áreas de meio ambiente, justiça, direitos humanos, saúde e administração pública.
O estudo faz parte do projeto de extensão universitária do campus e pretende entender as dificuldades e as potencialidades das políticas públicas relacionadas aos recursos hídricos e uso da água, à ocupação urbana e às questões ambientais na cidade desenvolvidas pela prefeitura. Para isso, uma equipe do campus – composta por cinco alunos de graduação (três bolsistas e dois voluntários) e três professores na coordenação – foi encarregada de colher dados com moradores e líderes comunitários de duas comunidades (Fazendinha e Raio de Luz) estabelecidas, respectivamente, no Jardim Padroeira. Nas entrevistas, os alunos captaram as percepções desses moradores sobre os córregos, os problemas, as carências e a efetividade limitada de políticas públicas que refletem diretamente em sua qualidade de vida.
De acordo com Karen Fernandez Costa, cientista política e uma das coordenadoras do levantamento, o trabalho, iniciado em maio de 2013, também envolve escutar órgãos públicos, em especial a prefeitura e suas secretarias, organizações não governamentais (ONG) e membros do Programa de Agentes Comunitários (PAC) da Unidade Básica de Saúde (UBS) Getulino José Dias. “O projeto está possibilitando maior comunicação e interação entre a academia e a população local, que é o escopo da extensão universitária, para compreender as condições de privação presentes em regiões periféricas de alta vulnerabilidade social”, explica. “ Através da observação crítica estamos identificando as demandas latentes das comunidades entrevistadas para pensar em políticas públicas dentro das capacidades reais dos órgãos administrativos oficiais”.
Parte da equipe dos alunos de graduação que participaram do projeto
Além de objeto de discussão entre os envolvidos, os resultados do projeto – que também conta com a coordenação dos cientistas sociais Fábio Alexandre dos Santos e Ana Paula Galdeano Cruz – serão apresentados nos congressos de extensão universitária e iniciação científica da Unifesp após sua catalogação, prevista para acontecer em novembro.
Panorama geral da região
O município de Osasco, localizado na região metropolitana de São Paulo, possui 65 km2 de área. É uma das mais ricas e populosas cidades do estado de São Paulo, com cerca de 700 mil habitantes. A atividade econômica do município apresenta grande dinamismo, principalmente nos setores comercial e de serviços. De acordo com dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município ocupa o 12º lugar no cenário nacional e o 4º no estado em relação ao PIB (Produto Interno Bruto). Apesar de ser considerada “cidade trabalho” e ter um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) alto, a incidência da pobreza na região é de 38,75%.
A região metropolitana de São Paulo, na qual Osasco está inserida, apresenta um dos quadros mais preocupantes do país quanto a quantidade e qualidade de água para consumo humano e, de acordo com especialistas, já sofre de estresse hídrico. A região também apresenta inúmeros problemas sociais e desafios políticos no que se refere a violência urbana, habitação, rede de esgoto e estações de tratamento.
Para Fábio Alexandre dos Santos, o grande desafio das metrópoles do país é formular caminhos e estratégias para solucionar problemas imediatos. Porém, com olhar a longo prazo, de modo a se pensar na urgência de agir conjuntamente em prol de políticas públicas sustentáveis que reduzam os índices de pobreza e que convirjam às obras de despoluição, tratamento de resíduos, entre outros, além de programas de educação, de cidadania e de gestão eficaz dos recursos naturais.
Em 2007, a prefeitura lançou o projeto “Recuperação de Minas e Nascentes”, com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância de se preservar as águas e incentivar a percepção de que esse recurso natural é um bem finito e essencial à vida humana. Foram identificadas 105 nascentes, 31 das quais revitalizadas. “Segundo o secretário de Meio Ambiente do município, Carlos Marx, as ações ainda não atingiram o seu limite e é possível avançar mais nesse programa”, afirma Karen. “Há, no entanto, dificuldades relacionadas com as nascentes aterradas por empreendimentos imobiliários e com a desapropriação dos imóveis construídos sobre ou próximos às nascentes”.
Projeto de Extensão Universitária: A percepção dos moradores sobre as águas do córrego João Alves. Um levantamento socioeconômico e ambiental como subsídio para políticas públicas de Osasco
Autores: Ana Paula Galdeano Cruz, Fábio Alexandre dos Santos, Karen Fernadez Costa
Equipe de alunos: Alexandre Rosenberg, Rebeca Marques Rocha, Rodrigo Guth Esteves, Mariana Venturini, Paula Heiss
Artigo relacionado: GALDEANO, Ana Paula; FELTRAN, Gabriel. As periferias de São Paulo: novas dinâmicas e conflitos. Revista Contraste. No prelo.
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Edição 02 • Junho 2014