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Mitos e verdades sobre a tadalafila, medicamento para disfunção erétil que está entre os mais vendidos no Brasil

Uso indiscriminado e desvirtuado do fármaco por jovens saudáveis e praticantes de esportes pode trazer prejuízos à saúde; em 2024, remédio ficou entre os cinco mais consumidos no país pela primeira vez

A imagem mostra um frasco de cor escura (possivelmente âmbar), deitado de lado sobre uma superfície azul, com vários comprimidos amarelos derramados ao redor da abertura. Os comprimidos são redondos e de cor uniforme. A imagem é nítida e parece ter sido feita em estúdio, com boa iluminação que destaca o contraste entre o frasco escuro, os comprimidos amarelos e o fundo azul. No canto superior direito, há um pequeno crédito de imagem informando "imagem: jcomp/freepik".

Aprovada nos Estados Unidos e no Brasil no ano de 2003, a tadalafila é amplamente utilizada no tratamento da disfunção erétil, uma vez que a sua ação consiste no relaxamento dos vasos sanguíneos, favorecendo o aumento do fluxo de sangue e contribuindo para a obtenção de ereções em resposta ao estímulo sexual.

Segundo Raphael Caio Tamborelli Garcia, professor no Departamento de Ciências Farmacêuticas do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas (ICAQF/Unifesp) - Campus Diadema, “a substância também é eficaz no combate à hiperplasia prostática benigna – condição caracterizada pelo aumento da próstata – e pode ser indicada para casos de hipertensão pulmonar”.

Ainda de acordo com Garcia, a tadalafila se diferencia da sildenafila, composto ativo do famoso comprimido azul também utilizado para impotência sexual, por sua duração prolongada no organismo (até 36 horas), enquanto a sildenafila costuma ter efeito de 4 a 6 horas. “Além disso, a tadalafila pode ser administrada em doses diárias baixas, o que é vantajoso no tratamento contínuo de problemas prostáticos”, complementa.

Paulo Roberto Correia, fisiologista do exercício da disciplina de Medicina do Esporte e Atividade Física da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) - Campus São Paulo, explica que esse efeito prolongado da tadalafila aumenta os riscos decorrentes de seu uso inadequado.

Correia alerta que a automedicação pode causar efeitos adversos como congestão nasal, aumento da frequência cardíaca, dores de cabeça e até elevar o risco de AVC em pessoas predispostas. “Essa medicação foi desenvolvida para homens com disfunção erétil, e nem todos podem utilizá-la. Para isso, uma avaliação médica é altamente recomendada”, reforça.

Em 2024, a tadalafila foi o quinto remédio genérico mais vendido no país, com 61.2 milhões de unidades comercializadas, segundo dados da pesquisa Pharmaceutical Market Brasil (PMB), da IQVIA, divulgada pela PróGenéricos. Pela primeira vez, em mais de 20 anos no mercado, o medicamento figurou entre os cinco mais consumidos no Brasil.

Conhecida popularmente como “remédio do fim de semana” ou simplesmente “tadala”, o uso do fármaco tem sido desvirtuado por jovens em busca de um melhor desempenho sexual e por pessoas praticantes de esportes que desejam melhorar seu rendimento físico, especialmente atletas. Porém, esse uso indiscriminado, além de não trazer os benefícios desejados, oferece prejuízos à saúde.

Mas, afinal, o que é mito e o que é verdade quando o assunto é a tadalafila? Confira as respostas a seguir, dadas pelos nossos especialistas:

A tadalafila pode ser usada para tratar outros problemas, além da disfunção erétil?

Verdade. Apesar de ser mais conhecida por tratar a disfunção erétil, como mencionado anteriormente, a tadalafila também pode ser usada para outros problemas de saúde. Ela é indicada no tratamento da hiperplasia prostática benigna (aumento da próstata), ajudando a aliviar sintomas como a dificuldade para urinar. Além disso, pode ser usada para tratar a hipertensão pulmonar, que é o aumento da pressão nos vasos sanguíneos dos pulmões.

A substância aumenta o desejo e o desempenho sexual de jovens saudáveis?

Mito. A tadalafila não aumenta o desejo sexual (libido) e não melhora o desempenho em pessoas que não possuem disfunção erétil. Ela age apenas facilitando a ereção ao aumentar o fluxo de sangue para o pênis, mas só funciona se houver estímulo sexual. Em jovens saudáveis, que já têm uma função erétil normal, o uso da tadalafila não traz benefício real e pode até causar efeitos adversos desnecessários.

O uso sem prescrição e contínuo da tadalafila traz efeitos colaterais indesejados?

Verdade. O uso da tadalafila sem orientação médica e de forma contínua pode causar efeitos indesejados, como dor de cabeça, tontura, dor muscular, indigestão e alteração da pressão arterial. Embora seja raro, a ereção persistente, também chamada de priapismo – uma ereção anormal, prolongada (4h ou mais), dolorosa e que não é acompanhada de desejo sexual – pode ocorrer como efeito adverso do uso de tadalafila, especialmente se for usada em excesso ou sem orientação médica. Se acontecer, a pessoa deve procurar imediatamente o atendimento médico. Além disso, o uso frequente sem necessidade médica pode esconder problemas de saúde mais sérios, como alterações hormonais ou doenças cardíacas. Por isso, é muito importante usar esse tipo de medicamento somente com prescrição e acompanhamento médico.

O medicamento pode causar alguma dependência?

Mito. A tadalafila não causa dependência, ou seja, não vicia. Isso acontece porque ela não age no cérebro como outras drogas que aumentam a dopamina, uma substância relacionada à sensação de bem-estar e prazer. Também não gera necessidade de aumentar a dose nem causa sintomas de abstinência quando interrompida. No entanto, algumas pessoas podem acabar criando um costume ou uma confiança excessiva no uso de tadalafila, achando que só conseguem ter relações sexuais com a ajuda dela, mesmo sem precisarem de fato. Isso pode afetar a autoconfiança e a saúde emocional com o tempo. Sempre é importante buscar orientação médica para garantir que o uso do medicamento seja feito de forma adequada.

Ingerir tadalafila diariamente pode trazer prejuízos à saúde?

Verdade, se for usada sem orientação médica. A tadalafila pode ser usada diariamente, mas somente em doses baixas e com prescrição médica, especialmente para casos de disfunção erétil frequente ou sintomas urinários causados pelo aumento da próstata. Por outro lado, tomar tadalafila todos os dias por conta própria, sem acompanhamento médico, pode aumentar o risco de efeitos indesejáveis, como dor de cabeça, dores musculares, queda de pressão e problemas cardiovasculares. Além disso, o uso contínuo e sem necessidade pode esconder outras causas do problema e levar a uma confiança excessiva no medicamento, fazendo com que a pessoa ache que não consegue ter relações sem ele. Sempre consulte um profissional de saúde antes de usar qualquer medicamento com regularidade.

É seguro misturar tadalafila com álcool ou outro medicamento?

Mito. Misturar tadalafila com álcool, especialmente em grandes quantidades, pode ser perigoso. O álcool pode aumentar os efeitos indesejados da tadalafila, como queda de pressão, tontura, dor de cabeça e até dificultar a ereção, o que vai contra o objetivo do medicamento. Além disso, a tadalafila pode interagir com outros medicamentos, como os usados para o coração (principalmente os que contêm nitrato), antibióticos ou antifúngicos, o que pode causar problemas graves à saúde. Por isso, é sempre importante informar ao médico sobre o uso de álcool ou outros medicamentos antes de tomar tadalafila.

A tadalafila possui os mesmos efeitos que a sildenafila (Viagra®)?

Verdade. Ela possui os mesmos efeitos, mas com algumas diferenças. A tadalafila e a sildenafila atuam de forma parecida, pois ambas ajudam no tratamento da disfunção erétil, melhorando o fluxo de sangue para o pênis. No entanto, existem algumas diferenças importantes entre elas, já mencionadas anteriormente. A tadalafila pode durar até 36 horas no organismo, enquanto a sildenafila age por cerca de 4 a 6 horas. A tadalafila pode ser usada em dose diária baixa, o que é útil para tratar o aumento da próstata. Ambas podem causar efeitos adversos semelhantes, como dor de cabeça e desconforto estomacal, mas algumas pessoas podem tolerar melhor uma do que a outra. Por isso, mesmo sendo semelhantes, o ideal é que um médico indique qual é a melhor opção para cada caso.

Tomar uma dose maior aumenta o efeito do medicamento?

Mito. Tomar uma dose maior de tadalafila não aumenta o efeito, e sim o risco de intoxicação aguda e efeitos adversos, como dor de cabeça forte, tontura, dor muscular, queda de pressão e, em casos mais graves, priapismo. A dose ideal varia de pessoa para pessoa e deve ser indicada e orientada por um médico. Usar uma quantidade maior do que a recomendada não melhora a performance sexual e pode prejudicar a saúde.

A tadalafila pode ser utilizada por mulheres?

Verdade, mas em situações específicas. A tadalafila é usada principalmente por homens para o tratamento da disfunção erétil (dificuldade de ter ou manter ereção), do aumento da próstata e da hipertensão arterial pulmonar (aumento da pressão nos vasos sanguíneos dos pulmões). Ela também pode ser usada para tratar hipertensão pulmonar em mulheres, assim como em homens. Embora não tenha indicação em bula para o uso em mulheres, alguns estudos mostram que a tadalafila pode ajudar em situações específicas. Por exemplo, mulheres que têm dificuldade sexual devido ao uso de antidepressivos podem ter melhorias com a tadalafila. Também foi observada melhora em mulheres com diabetes tipo 1, melhorando o fluxo sanguíneo genital, a excitação sexual e outros aspectos subjetivos de prazer. No entanto, em mulheres com doenças autoimunes, como o lúpus, os resultados são menos favoráveis, com benefícios limitados. Apesar de não ser aprovada para todas essas situações, a tadalafila pode ajudar em alguns casos específicos, mas sempre deve ser usada com orientação médica.

O medicamento melhora o desempenho esportivo?

Mito. O aumento do calibre das artérias causado pela substância proporcionaria melhor aporte sanguíneo para os músculos e, potencialmente, melhoraria o desempenho físico. Mas, neste caso, é bem possível que a exacerbação desta vasodilatação gere um efeito rebote. Ou seja, seu organismo irá “lutar” para reverter essa ação não natural, proporcionando assim outros efeitos colaterais que podem vir até a prejudicar o próprio rendimento físico.

Os benefícios da tadalafila no esporte são comprovados cientificamente?

Mito. Os resultados de alguns estudos sugerem que a tadalafila poderia melhorar o desempenho físico por conta da vasodilatação produzida pelo medicamento, mas isso ainda é inconclusivo de acordo com a ciência.